O Jardim de Inverno dos Nibelungos é uma fanzine online e não pretende mais do que fazer a crónica de um mundo onde o exílio é voluntário. Sejam bem-vindos.
domingo, 23 de agosto de 2015
sábado, 22 de agosto de 2015
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
À beira do fim 1
Uma fanzine, ainda que modelada pela
tecnologia do presente, carrega em si a certeza da precariedade, ou melhor
dizendo, uma fanzine que se preze sabe que a sua razão de ser contrasta com
qualquer ideia de conservação ou longevidade. O Jardim de Inverno dos
Nibelungos não foge a esta regra e apresta-se ao silêncio, perfazendo 365 dias
de atividade ininterrupta no próximo 23 de agosto. Talvez regresse um dia, com
outra pele e diferentes propósitos. Para os seus últimos dias, convoca-se o
grupo australiano The Go-Betweens, que é, entre as nossas plantinhas, um
verdadeiro primus inter pares.
Um outro verão
Com tal severidade estival, talvez
seja preferível imaginar um verão alternativo, quem sabe feito de peregrinações
noturnas a uma Lisboa a retemperar as energias para enfrentar as estações mais
cinzentas do ano. Os Pop Dell´ Arte podem muito bem ser os anfitriões desta
excursão do Jardim às horas mais belas da madrugada.
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
Roedelius no Oriente
Regressa o Jardim a uma figura
central dos anos 70, Hans-Joachim Roedelius, mas por intermédio de um disco
publicado em 1990 pela editora sueca Multimood Records, Der
Ohren Spiegel. No tema Sekijan
Kijano, o alemão deixa que os aromas do Oriente se entrelacem com o
arsenal eletrónico que sempre sustentou o seu longo percurso musical desde os
tempos dos Kluster, velho grupo da fação mais radical do Krautrock.
terça-feira, 18 de agosto de 2015
Um herói esquecido
Richard Hell
foi uma figura de intenso prestígio na passagem da década de 70 para a de 80, por
um lado reconhecido pelo fação teimosamente mais Punk, mas também respeitado
pelos aventureiros que viraram costas à ortodoxia dos três acordes. A sua
influência foi então relevante, ainda que hoje seja uma personagem mais ou
menos anónima de um período extraordinário da história da música Pop/Rock.
segunda-feira, 17 de agosto de 2015
O Ocidente e o Oriente, segundo os Delerium 1
O Jardim fez já várias visitas a espécies
quarto-mundistas que habitam os nossos canteiros e como tais incursões se revelam sempre compensadoras, rumamos agora a um exemplo atraído pelos aromas do
Oriente, os Delerium. Apesar de um percurso marcado por opções polémicas, os
primeiros discos do grupo recriam com interesse a unidade de um mundo
tecnológico com as vozes e os sons que nos chegam de um tempo e de um lugar
distantes.
domingo, 16 de agosto de 2015
sábado, 15 de agosto de 2015
O passado sem nostalgia
No campo da arqueologia Pop,
louve-se a editora Jazzman pelo trabalho incansável em recuperar discos
ignorados ao longo de décadas a fio. As operações de resgaste nunca se
confundem com nostalgia e cumprem exemplarmente o objetivo de dar uma nova vida
a quem acabou engolido pelo tempo. Os Sound of the City Experience mereceram,
por inteiro, uma nova oportunidade.
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
A loucura dos Severed Heads
São um dos nomes da vaga industrial
emergida da Austrália a partir dos finais dos anos 70. Talvez não tenham
logrado o reconhecimento dos compatriotas SPK, mas acabaram por sentir o doce aroma do sucesso
nalguns temas apontados à pista de dança. No entanto, o Jardim prefere as
experiências sónicas anteriores, principalmente as que ocupam o LP duplo Clifford Darling, Please Don't Live In The Past (1985).
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
Um banho na Jamaica
Cá para o
Jardim, uma boa parte dos males que vão no mundo devem-se à carência de música
jamaicana nos hábitos daqueles que nos comandam os dias. Quer dizer, umas horas
mensais de riqueza sónica caribenha apaziguariam tanta e tão desnecessária exaltação
contra a própria espécie, mas é também verdade que a experiência mostra o quão
irrelevante a boa música pode ser para o funcionamento da vida de demasiados
milhões.
quarta-feira, 12 de agosto de 2015
terça-feira, 11 de agosto de 2015
segunda-feira, 10 de agosto de 2015
O resgate do Smile perdido 1
Será,
porventura, o disco perdido mais famoso da história do Pop/Rock. O seu rumor
atravessou décadas, até que as suas canções puderam, finalmente, ser ouvidas
pela parte do planeta Terra que se interessa por música. Smile era para ser o
sucessor de Pet Sounds, mas só chegou em 2004: se não valesse pelas canções,
serviria, pelo menos, como símbolo do fim do pesadelo vivido por Brian Wilson.
domingo, 9 de agosto de 2015
sábado, 8 de agosto de 2015
sexta-feira, 7 de agosto de 2015
Os Sonic Youth no Campo Pequeno 1
Poucas
máximas serão tão certeiras como “Mais vale tarde do que nunca”, na verdade, certeiríssima
quando aplicada àquela noite de felicidade em que Lisboa recebeu, pela primeira
vez, os nova-iorquinos Sonic Youth, corria a noite de 14 de julho de 1993. Tinha
então já decorrido demasiado tempo sobre a tempestade desencadeada pelo par
EVOL/Sister, mas a perseverante espera foi largamente compensada e o frenesim
levantado naquela noite demorou a desaparecer.
quinta-feira, 6 de agosto de 2015
quarta-feira, 5 de agosto de 2015
Loucos pelo Pós-Punk Anglo-Americano 1
Foi já no longínquo
dia 6 de outubro de 2014 que, com um razoável grau de solenidade, o nosso Jardim prometeu “(…)
uma sementeira alargada sobre a época”, referindo-se esta ao abençoado período
do Pós-Punk. O tempo foi passando, mas as palavras proferidas não resvalaram,
por um segundo que fosse, para o esquecimento e serão, a partir de agora,
cumpridas. Sejam todos bem-vindos à 1ª Grande Exposição do Pós-Punk
Anglo-Americano.
terça-feira, 4 de agosto de 2015
segunda-feira, 3 de agosto de 2015
Fora do tempo 1
A curtíssima discografia
chega e sobra para deixar um imenso e duradouro rasto de contentamento aos que
a escutam, coisa ao alcance de poucos no Pop/Rock. Os escoceses Life Without Buildings
são um daqueles milagres de frescura, um grupo capaz de atravessar décadas sem
pertencer a nenhum lugar em particular, pairando bem alto sobre modas e
vaidades mesquinhas. Música Pop para muitos e muitos anos.
domingo, 2 de agosto de 2015
O passado de Geir Jenssen 1
Há poucos dias, o
nosso Jardim relembrou a música ambiental dos Biosphere e uma das plantinhas
mais ladinas sugeriu, de imediato, uma memória ainda mais antiga com o norueguês
Geir Jenssen igualmente aos comandos, os Bel Canto, grupo bastante convergente com a atmosfera dos anos 80 inventada por editoras como a inglesa 4AD.
sábado, 1 de agosto de 2015
sexta-feira, 31 de julho de 2015
quinta-feira, 30 de julho de 2015
Para lá dos hits 1
Da vaga primordial
do Rock português (80/81), os Heróis do Mar e os GNR foram, durante meia década, os grupos mais consistentes. Sobreviveram ao desastre de 82/83 e mantiveram sempre o
contacto com a realidade – discos, concertos, visibilidade na imprensa –, mesmo
nos momentos mais difíceis. O maior hit dos portuenses é exatamente desse tempo
de contração, Dunas. Fugindo ao reconhecimento imediato, o Jardim vai até à
sombra e traz à luz do dia canções menos presentes, mas que provam
inequivocamente a arte dos GNR de então.
quarta-feira, 29 de julho de 2015
terça-feira, 28 de julho de 2015
A Natureza, segundo Ian Simmonds 1
Para o nosso
Jardim, Ian Simmonds gravou um dos melhores discos dos anos 90, Last states of
nature, mais uma peça esquecida num mundo bem mais interessado nas tricas dos
grandes palcos. Posto isto, fica então o planeta a perder a inquietude deste
ex-Sandals, que, pela eletrónica, retrata um paisagismo que não podia ser mais
contrastante com o imaginário habitualmente associado às dádivas da Natureza.
segunda-feira, 27 de julho de 2015
As lições do Capitão 1
Ainda que os seus
discos tenham conhecido diferentes graus de radicalidade, é indesmentível que
Captain Beefheart foi um zelador incansável da vocação incendiária do Rock,
metáfora que o Black Metal norueguês levou às últimas consequências pela ação
de gente como Samoth e Varg Vikernes, respetivamente dos grupos Emperor e
Burzum. Nota de rodapé à parte, Beefheart legou ao mundo um ensinamento para
muitas gerações: o Rock é, essencialmente, um assunto que respeita às vísceras,
com o coração destinado a interpretar um papel secundário.
domingo, 26 de julho de 2015
sábado, 25 de julho de 2015
Rother no Bairro Alto 1
Aproveita o nosso
Jardim a comparência de Michael Rother na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa,
para relembrar o arrojo dos Neu!, que em pleno consulado do Rock Progressivo
ajudaram a definir uma nova via para a música. O grupo foi um dos mais relevantes
do Krautrock, designação integradora de uma complexidade que, ao contrário do
afirmado esta semana num jornal nacional, esteve longe de se cingir a
meia-dúzia de nomes, mesmo se atendermos à dimensão da então República Federal
da Alemanha.
Em busca do ambientalismo esquecido 1
Foi há cerca de
vinte anos que se construiu uma sólida fortaleza ambiental, um verdadeiro
refúgio contra a aceleração de várias músicas de então. As ferramentas eram
semelhantes, mas os ambientalistas aproveitaram as velhas lições de Brian Eno e
juntaram-lhes ideias mais ou menos novas que a tecnologia ajudou a realizar.
Infelizmente, alguns dos discos desta vaga atingem hoje preços estapafúrdios,
sem que se vislumbre uma política séria de reedições.
sexta-feira, 24 de julho de 2015
Ainda Nova Iorque
E como ontem
terminámos o dia na tal cidade que nunca dorme, vem mesmo a propósito recordar
uma das expressões mais puras de um espaço aberto aos estímulos que chegavam de
várias partes do Planeta. Os Konk integraram, em porções difíceis de apurar, o
tropicalismo particular, porque filtrado pelo ambiente de Manchester, dos A
Certain Ratio e a herança mais direta das comunidades negra e latina de Nova Iorque.
Ouvi-los é, ainda hoje, uma felicidade.
Chandra aos 12 anos de idade
É uma recém-chegada
ao nosso Jardim, um quase mito que ficou praticamente esquecido em pleno Pós-Punk. Chandra gravou pouquíssimo, mas aproveitou a criatividade que
sacudia Nova Iorque em 1980 e respirou o oxigénio fabricado por Talking Heads,
ESG e Bush Tetras. Kate é uma delícia na voz de uma adolescente de 12 anos, mas
de garras bem afiadas.
quinta-feira, 23 de julho de 2015
quarta-feira, 22 de julho de 2015
terça-feira, 21 de julho de 2015
Mick em Portugal 1
Já por cá passou, mas
como se encontra a fazer uma minidigressão pelo país – com duas datas nas
improváveis, mas afortunadas, Faro e Ílhavo –, o antigo Birthday Party e The Bad
Seeds, Mick Harvey, merece bem o regresso ao nosso Jardim. No bornal, o australiano traz
unicamente o universo de Serge Gainsbourg, garantia de duas noites magníficas.
segunda-feira, 20 de julho de 2015
domingo, 19 de julho de 2015
Saudades dos Shriekback 1
O tempo leva muitos
dos discos que, um dia, nos pareceram capazes de resistir à corrupção. Tudo
passa, ressalvando-se as exceções, que nem serão poucas. Contraditoriamente,
esta memória esquecida permanece junto de nós, nos LP e CD que vamos juntando
com empenhado prazer, até que um dia, sem motivo, nos lembramos de um grupo que
há muito se tornara uma vítima do pó acumulado nas prateleiras. Hoje calha a
vez a um velho amor do nosso Jardim, os Shriekback, que nunca estiveram propriamente
esquecidos, mas apenas à espera de uma fraqueza dos nossos sentidos.
sábado, 18 de julho de 2015
sexta-feira, 17 de julho de 2015
Longe do mundo 1
A trágica morte de
Brian Jones – o mais belo dos Rolling Stones, segundo Genesis P-Orridge – ou o
recolhimento quase hollywoodesco de Syd Barrett, membro fundador dos Pink Floyd,
são dois factos da primeira divisão da mitologia do Rock. Deixando Jones de
parte, visitemos a brevíssima obra do segundo, que com The Madcap Laughs (1970)
ganhou o seu lugar na longa história da música urbana.
quinta-feira, 16 de julho de 2015
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Um cão uruguaio
É caso para adaptar
o que dizia o Punk do Hippie e gritar: – Never trust a Maxi! E para continuar no mesmo idioma: – Fuck
off, bastard!
terça-feira, 14 de julho de 2015
Um clube americano 1
Os American
Music Club foram um dos grandes grupos norte-americanos das últimas décadas,
mas que nunca tiveram direito a uma campanha de reedições capaz e, talvez por
isso, são pouco reconhecidos nos tempos que correm. Em todo o caso, como nunca se alinharam
em lado algum, a sua música permanece tão admirável como da primeira vez em que
foi escutada pelas plantinhas do nosso Jardim.
segunda-feira, 13 de julho de 2015
Paredes e os seus discípulos 1
É fácil de
perceber o pouco interesse dos músicos do Pop/Rock português dos anos 80 na
riqueza nacional que herdáramos. Sem surpresa, os modelos inspiradores
provinham do mundo anglo-americano e quase mais nada importava. No entanto,
como seria possível continuar, ano após ano, a ignorar a proeminência de gente
como José Afonso e Carlos Paredes? De há algum tempo para cá, este último
transformou-se mesmo num farol de muitos guitarristas – Tó Trips, Norberto
Lobo, Peixe, Filho da Mãe… – e o Jardim junta, a partir de agora, o mestre e
alguns dos que se fizeram seus discípulos.
A propósito de: Rip Rig & Panic - God (última)
Cada
vez que toca, God desenha-se como uma Torre de Babel que logrou recuperar a
unidade perdida. Pelo engenho de uma fatia da geração que viveu in loco a vertigem do Punk – mas que
teve o discernimento de compreender a tempo a irrevogabilidade do seu ocaso –, múltiplas
linguagens fundem-se numa coisa só e Bristol chega ao lugar onde o desejo de um
antiquíssimo povo da Mesopotâmia havia soçobrado. Tanto tempo depois, o
reencontro dos seres humanos numa só espécie – sem prejuízo da essencial
pluralidade – foi outra vez possível.
domingo, 12 de julho de 2015
A propósito de: Rip Rig & Panic - God (3ª parte)
Pela
primeira vez disponível em CD oficial desde a sua edição em 1981, God é o disco
síntese da evolução do Punk para as extraordinárias experiências do seu pós
(aceita-se Sextet, dos A Certain Ratio, como alternativa à altura) e a prova da
existência de organismos quase invisíveis – pois largamente ignorados na
vigência do período jurássico –, avidamente observados e reconhecidos nos anos
da rebelião dos Sex Pistols. Assim, ao longo de God finca-se o corpo no
frenesim rítmico que o Punk resgatou, franquea-se a alma ao sabor de paragens
distantes (África; Oriente; Jamaica), abraça-se o Funk mais afiado, ajusta-se a
espontaneidade do Jazz à medida desejada e não falta sequer a solidão do
fraseado de um piano. Depois, no coração da música, opera-se a espantosa
inserção das vozes de Neneh Cherry e de Ari Up, num jogo de instrumentos e
vocábulos ora entrelaçados, ora arremetidos uns contra os outros, essencialmente
radiosos, mas também tocados pela melancolia, sons e palavras num dilúvio de 40
minutos que se assemelha a uma escultura mutante forjada pela porção mais
irreverente da natureza humana.
sábado, 11 de julho de 2015
sexta-feira, 10 de julho de 2015
A lírica dos Half Man Half Biscuit
A música Pop
é servida por todo o género de poesia, mas não existe uma relação de
proporcionalidade entre o seu grau de sofisticação e o interesse que as canções
despertam. Na verdade, muitas coisas escritas, com a pena embebida em cerveja,
num qualquer tasco podem ser ouro. Reflections in a Flat, dos ingleses Half Man
Half Biscuit, é um exemplo de que não ser um letrista a sério pode, em muitos
casos, revelar-se uma verdadeira bênção.
A propósito de: Rip Rig & Panic - God (2ª parte)
É
verdade que a tempestade se nutria de slogans razoavelmente monolíticos,
gerados a partir de uma amálgama de ideias em muito devedoras à cerveja, mas a
tutela dos antigos foi-se quebrando e um amplo horizonte tomou conta de um
espaço anteriormente inexistente. Quando o Punk se eclipsou (é bem sabido que
ele não sobreviveu após 1978, descontando-se, bem entendido, as caricaturas a
traço grosso), as sementes libertárias jogadas ao vento estavam já bem
disseminadas pelo Reino Unido e a criação musical ganha uma expressão
invulgarmente localista. A mitologia eternizou, via Factory Records, Manchester,
mas Londres ousava mais: Metal Box (1979), dos PIL, ou os discos homónimos dos
This Heat e dos Flying Lizards, o primeiro também de 79, o outro chegado 1 ano
depois. Numa Sheffield industrialmente decadente fazia-se fé na veia poética
das máquinas, ideia largamente importada de Dusseldorf. Fora dos centros
habituais, a vida dava à costa nos lugares mais improváveis e Cardiff lega à
história da pop o silêncio peculiar dos Young Marble Giants, mas, talvez, em
nenhum outro sítio tanto terá sido feito como em Bristol, pedaço do sudoeste
inglês: The Pop Group, Glaxo Babies, Maximum Joy e, principalmente, Rip Rig
& Panic.
quinta-feira, 9 de julho de 2015
quarta-feira, 8 de julho de 2015
A propósito de: Rip Rig & Panic - God (1ª parte)
Na
história da música popular há pequeníssimos gestos capazes de gerar a mais
improvável das tormentas, afiados momentos dotados de uma força transformadora
passível de desmoronar as fortalezas mais inexpugnáveis. Em Agosto de 1975, um
jovem de 19 anos calcorreava King´s Road, no bairro londrino de Chelsea,
desafiando os deuses com um curto e belicoso “I Hate” estampado numa t-shirt do
grupo Pink Flody. A custo (quase) zero começava então uma revolta operária
contra as certezas graníticas do rock dos anos setenta e o aparato tecnológico
que o sustentava é posto em sentido pela simplicidade guitarra eléctrica/baixo/bateria.
Os Sex Pistols viveram pouco tempo (1975-1978) e publicaram apenas um LP em 77,
mas a golpes certeiros de navalhadas sónicas, devidamente temperadas por
quantidades apreciáveis de saliva, inventaram o aluvião que irrigará uma geração
temporariamente Punk, que logo depois intuiu o verdadeiro sentido do desafio
lançado por Johnny “Rotten” à cartilha de setenta. Os velhos heróis do rock
progressivo não desapareceram, mas a sua influência minimalizou-se – embora os
anos tenham devolvido, no corpo de alguns vencedores do presente, o seu
narcisismo cénico –, ao mesmo tempo que o epíteto de “dinossauros” os transforma
numa coisa que experimenta a contradição da convivência entre o batimento
cardíaco e o fim, irreversível, de uma época.
terça-feira, 7 de julho de 2015
segunda-feira, 6 de julho de 2015
Um ano pela metade 1
Cumprida metade de 2015, continua a enxurrada de edições imprópria para as curtas 24
horas que o dia disponibiliza à espécie humana, já para não falar no esforço
financeiro que um acompanhamento minimamente digno de um apreciador de música pressupõe.
Numa palavra, demasiada oferta para tão pouco tempo e dinheiro. Mas sobeja largamente
a vontade de ouvir.
domingo, 5 de julho de 2015
sábado, 4 de julho de 2015
Guitarras ao alto
Depois da
explosão de criatividade da segunda metade dos anos 80 com epicentro na editora
Ama Romanta – que concedeu à música nacional uma dimensão apátrida nunca mais
repetida –, o Pop/Rock português americanizou-se à sombra de Daydream Nation (1988),
dos Sonic Youth. Nesta vaga afirmava-se como chefe de fila o grupo Tina And The
Top Ten e o disco Teenage Drool (1994) é o legado máximo de mais uma geração que o tempo engoliu.
quinta-feira, 2 de julho de 2015
quarta-feira, 1 de julho de 2015
Uma geração de guitarras 1
C86 foi o
instrumento de uma geração que se lançou na Pop a partir das façanhas de grupos
como Orange Juice, The Smiths e The Jesus & Mary Chain. A cassete viu a luz
do dia em 1986 por intermédio do então relevante New Musical Express e
transformou-se na imagem da juventude britânica imediatamente antes da viragem
a caminho de uma música mais subsidiária da eletrónica.
terça-feira, 30 de junho de 2015
Um guerrilheiro do Rock português 1
O nome não
fará soar campainhas, mas a verdade é que o guitarrista Jorge Ferraz Martins já
cá anda há mais de trinta anos. Seria razoavelmente aborrecido referir os
grupos que inventou, alguns deles com direito a disco. Será, talvez, mais fácil
afirmá-lo como o mais irredutível e esquivo guerrilheiro que o Rock português
conheceu em todos estes anos, conforme se provará.
segunda-feira, 29 de junho de 2015
domingo, 28 de junho de 2015
sábado, 27 de junho de 2015
Memória da adolescência 1
Vá lá
saber-se porquê, mas um dos grupos mais importantes da adolescência do nosso
Jardim não teve ainda o mais que esperado espaço. Os The Smiths foram o último
caso sério da Pop inglesa, pois tiveram uma influência que esteve muito longe
de se reduzir aos sinais exteriores da adulação. Dito de outro modo, não
importava apenas a androgenia subtil ou o corte de cabelo de Morrisey, mas
também ler Oscar Wilde e gostar do Alain Delon. Quem o conseguiu,
posteriormente, de forma tão alargada?
sexta-feira, 26 de junho de 2015
Voz ao Krautrock 1
Krautrock é
uma designação tão vaga como Pós Punk, um mero nome utilizado para agrupar uma
vasta realidade, mas que apresenta um substrato comum relacionado com um
determinado espaço e uma época concreta. Dito diferentemente, trata-se de um
certo Pop/Rock alemão sobrevindo nos anos 70, que tomou partido pelo inconformismo
e foi capaz de dar um novo alento à música. Na realidade, uma vasta família a
reclamar uma identidade forjada fora do eixo anglo-americano, como o Jardim
notará a partir de agora.
quinta-feira, 25 de junho de 2015
quarta-feira, 24 de junho de 2015
terça-feira, 23 de junho de 2015
Weill na voz de Ute
A propósito
de um filme alemão recentemente visto – Phoenix, de Christian Petzold –, trazemos
ao nosso Jardim uma velha canção de Kurt Weill, Speak Low (1943). A
interpretação é da cantora Ute Lemper, que gravou, pelo menos, dois discos
dedicados ao repertório do compositor. A uma determinada altura, Ute teve mesmo
direito à simpatia de muitos portugueses – com discos vendidos e tudo –,
bastante merecida, diga-se.
segunda-feira, 22 de junho de 2015
Música Marginal Portuguesa 1
Poder-se-ia
chamar música marginal portuguesa a este segmento de música, feita em território
nacional, raramente ouvida, vista ou discutida. Ainda assim, lá se foram
gravando uns discos, na maior parte dos casos sem o legítimo direito a reedição.
A escolher o nome mais heroico desta saga solitária, os Telectu desempenhariam,
como ninguém, esse papel.
domingo, 21 de junho de 2015
No tempo do Psicadelismo 1
No universo do Pop/Rock, compilar os
sinais de uma determinada geração é um exercício comum, talvez narcisista, mas de
extrema utilidade para a preservação da memória. Depois de outros exemplos,
viajamos agora a alguns momentos áureos do Psicadelismo com Nuggets:
Original Artyfacts From The First Psychedelic Era 1965-1968, disco mais
precioso do que todas as discografias juntas dos psicadélicos recém-chegados e
num ápice transformados em santos dos nossos dias.
sábado, 20 de junho de 2015
Pop Dell ´ Arte numa noite de verão
Sábado à
noite, uma noite de quase verão, a ironia desencantada dos Pop Dell´ Arte, a voz de João Peste, um mistério inventado em Campo de Ourique.
Uma escolha referendada
Não será uma
democracia tão antiga como a inglesa, mas o nosso Jardim orgulha-se dos seus
princípios de respeito pela vontade popular, neste caso bem impregnada de clorofila.
No último ato emanado deste espírito, referendou-se a canção que nunca podia
ter sido feita senão nos anos 80. A escolha, com um resultado esmagador, foi
Primitive Painters, fruto da momentânea parceria entre os Felt e Elizabeth Fraizer, dos Cocteau Twins. Afinal, ainda é possível acreditar na retidão cívica das nossas
gentes.
sexta-feira, 19 de junho de 2015
quinta-feira, 18 de junho de 2015
O subúrbio inventa o Rock português 1
Passados
mais de 35 anos, é difícil imaginar, face à presente abundância, o estado do
Pop/Rock português no final da década de 70. Nas palavras de António Manuel
Ribeiro, os seus UHF surgiram do nada, como um sinal de vida num cenário quase
lunar. Na verdade, aqui e ali despontavam outros prenúncios, como o LP Música
Moderna (1979), dos Corpo Diplomático, mas a maré só engrossara no ano seguinte
e os almadenses gravam o primeiro disco da vaga Rock, À Flor da Pele (1981).
Rui Veloso até editou antes o seu LP, mas sem a apropriada contundência do subúrbio.
quarta-feira, 17 de junho de 2015
terça-feira, 16 de junho de 2015
segunda-feira, 15 de junho de 2015
Uma voz do presente 1
Enquanto a
norte-americana Meredith Monk se passeia pelo nosso Jardim, passa também por
ele a voz de Holly Herndon no disco Platform, de 2015. De certa forma, ambas
pertencem à mesma família, mas enquanto Monk começou com as circunstâncias dos
anos 70, Herndon vive imersa no mundo digital que a Internet encerra. Mas o
princípio e o fim de tudo continua a ser a voz humana.
Subscrever:
Mensagens (Atom)