quinta-feira, 20 de agosto de 2015

À beira do fim 1

Uma fanzine, ainda que modelada pela tecnologia do presente, carrega em si a certeza da precariedade, ou melhor dizendo, uma fanzine que se preze sabe que a sua razão de ser contrasta com qualquer ideia de conservação ou longevidade. O Jardim de Inverno dos Nibelungos não foge a esta regra e apresta-se ao silêncio, perfazendo 365 dias de atividade ininterrupta no próximo 23 de agosto. Talvez regresse um dia, com outra pele e diferentes propósitos. Para os seus últimos dias, convoca-se o grupo australiano The Go-Betweens, que é, entre as nossas plantinhas, um verdadeiro primus inter pares.



O Ocidente e o Oriente, segundo os Delerium 3



Um outro verão

Com tal severidade estival, talvez seja preferível imaginar um verão alternativo, quem sabe feito de peregrinações noturnas a uma Lisboa a retemperar as energias para enfrentar as estações mais cinzentas do ano. Os Pop Dell´ Arte podem muito bem ser os anfitriões desta excursão do Jardim às horas mais belas da madrugada.



quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Roedelius no Oriente

Regressa o Jardim a uma figura central dos anos 70, Hans-Joachim Roedelius, mas por intermédio de um disco publicado em 1990 pela editora sueca Multimood Records, Der Ohren Spiegel. No tema Sekijan Kijano, o alemão deixa que os aromas do Oriente se entrelacem com o arsenal eletrónico que sempre sustentou o seu longo percurso musical desde os tempos dos Kluster, velho grupo da fação mais radical do Krautrock. 



terça-feira, 18 de agosto de 2015

O Ocidente e o Oriente, segundo os Delerium 2



Um herói esquecido

Richard Hell foi uma figura de intenso prestígio na passagem da década de 70 para a de 80, por um lado reconhecido pelo fação teimosamente mais Punk, mas também respeitado pelos aventureiros que viraram costas à ortodoxia dos três acordes. A sua influência foi então relevante, ainda que hoje seja uma personagem mais ou menos anónima de um período extraordinário da história da música Pop/Rock.



segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Ocidente e o Oriente, segundo os Delerium 1

O Jardim fez já várias visitas a espécies quarto-mundistas que habitam os nossos canteiros e como tais incursões se revelam sempre compensadoras, rumamos agora a um exemplo atraído pelos aromas do Oriente, os Delerium. Apesar de um percurso marcado por opções polémicas, os primeiros discos do grupo recriam com interesse a unidade de um mundo tecnológico com as vozes e os sons que nos chegam de um tempo e de um lugar distantes.



Loucos pelo Pós-Punk Anglo-Americano 14



sábado, 15 de agosto de 2015

O passado sem nostalgia

No campo da arqueologia Pop, louve-se a editora Jazzman pelo trabalho incansável em recuperar discos ignorados ao longo de décadas a fio. As operações de resgaste nunca se confundem com nostalgia e cumprem exemplarmente o objetivo de dar uma nova vida a quem acabou engolido pelo tempo. Os Sound of the City Experience mereceram, por inteiro, uma nova oportunidade.



Loucos pelo Pós-Punk Anglo-Americano 12



sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A loucura dos Severed Heads

São um dos nomes da vaga industrial emergida da Austrália a partir dos finais dos anos 70. Talvez não tenham logrado o reconhecimento dos compatriotas SPK, mas acabaram por sentir o doce aroma do sucesso nalguns temas apontados à pista de dança. No entanto, o Jardim prefere as experiências sónicas anteriores, principalmente as que ocupam o LP duplo Clifford Darling, Please Don't Live In The Past (1985).



Loucos pelo Pós-Punk Anglo-Americano 11



quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Um banho na Jamaica

Cá para o Jardim, uma boa parte dos males que vão no mundo devem-se à carência de música jamaicana nos hábitos daqueles que nos comandam os dias. Quer dizer, umas horas mensais de riqueza sónica caribenha apaziguariam tanta e tão desnecessária exaltação contra a própria espécie, mas é também verdade que a experiência mostra o quão irrelevante a boa música pode ser para o funcionamento da vida de demasiados milhões.



Loucos pelo Pós-Punk Anglo-Americano 10



O resgate do Smile perdido 2



segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Fora do tempo 3



O resgate do Smile perdido 1

Será, porventura, o disco perdido mais famoso da história do Pop/Rock. O seu rumor atravessou décadas, até que as suas canções puderam, finalmente, ser ouvidas pela parte do planeta Terra que se interessa por música. Smile era para ser o sucessor de Pet Sounds, mas só chegou em 2004: se não valesse pelas canções, serviria, pelo menos, como símbolo do fim do pesadelo vivido por Brian Wilson.



sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Os Sonic Youth no Campo Pequeno 2



Os Sonic Youth no Campo Pequeno 1

Poucas máximas serão tão certeiras como “Mais vale tarde do que nunca”, na verdade, certeiríssima quando aplicada àquela noite de felicidade em que Lisboa recebeu, pela primeira vez, os nova-iorquinos Sonic Youth, corria a noite de 14 de julho de 1993. Tinha então já decorrido demasiado tempo sobre a tempestade desencadeada pelo par EVOL/Sister, mas a perseverante espera foi largamente compensada e o frenesim levantado naquela noite demorou a desaparecer.



quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Loucos pelo Pós-Punk Anglo-Americano 2



Loucos pelo Pós-Punk Anglo-Americano 1

Foi já no longínquo dia 6 de outubro de 2014 que, com um razoável grau de solenidade, o nosso Jardim prometeu “(…) uma sementeira alargada sobre a época”, referindo-se esta ao abençoado período do Pós-Punk. O tempo foi passando, mas as palavras proferidas não resvalaram, por um segundo que fosse, para o esquecimento e serão, a partir de agora, cumpridas. Sejam todos bem-vindos à 1ª Grande Exposição do Pós-Punk Anglo-Americano.



segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Em busca do ambientalismo esquecido 7



Fora do tempo 1

A curtíssima discografia chega e sobra para deixar um imenso e duradouro rasto de contentamento aos que a escutam, coisa ao alcance de poucos no Pop/Rock. Os escoceses Life Without Buildings são um daqueles milagres de frescura, um grupo capaz de atravessar décadas sem pertencer a nenhum lugar em particular, pairando bem alto sobre modas e vaidades mesquinhas. Música Pop para muitos e muitos anos.



domingo, 2 de agosto de 2015

Para lá dos hits 3



O passado de Geir Jenssen 1

Há poucos dias, o nosso Jardim relembrou a música ambiental dos Biosphere e uma das plantinhas mais ladinas sugeriu, de imediato, uma memória ainda mais antiga com o norueguês Geir Jenssen igualmente aos comandos, os Bel Canto, grupo bastante convergente com a atmosfera dos anos 80 inventada por editoras como a inglesa 4AD.



As lições do Capitão 3



quinta-feira, 30 de julho de 2015

Para lá dos hits 1

Da vaga primordial do Rock português (80/81), os Heróis do Mar e os GNR foram, durante meia década, os grupos mais consistentes. Sobreviveram ao desastre de 82/83 e mantiveram sempre o contacto com a realidade – discos, concertos, visibilidade na imprensa –, mesmo nos momentos mais difíceis. O maior hit dos portuenses é exatamente desse tempo de contração, Dunas. Fugindo ao reconhecimento imediato, o Jardim vai até à sombra e traz à luz do dia canções menos presentes, mas que provam inequivocamente a arte dos GNR de então.



As lições do Capitão 2



terça-feira, 28 de julho de 2015

A Natureza, segundo Ian Simmonds 1

Para o nosso Jardim, Ian Simmonds gravou um dos melhores discos dos anos 90, Last states of nature, mais uma peça esquecida num mundo bem mais interessado nas tricas dos grandes palcos. Posto isto, fica então o planeta a perder a inquietude deste ex-Sandals, que, pela eletrónica, retrata um paisagismo que não podia ser mais contrastante com o imaginário habitualmente associado às dádivas da Natureza.



Em busca do ambientalismo esquecido 5



segunda-feira, 27 de julho de 2015

Em busca do ambientalismo esquecido 4



As lições do Capitão 1

Ainda que os seus discos tenham conhecido diferentes graus de radicalidade, é indesmentível que Captain Beefheart foi um zelador incansável da vocação incendiária do Rock, metáfora que o Black Metal norueguês levou às últimas consequências pela ação de gente como Samoth e Varg Vikernes, respetivamente dos grupos Emperor e Burzum. Nota de rodapé à parte, Beefheart legou ao mundo um ensinamento para muitas gerações: o Rock é, essencialmente, um assunto que respeita às vísceras, com o coração destinado a interpretar um papel secundário.



Em busca do ambientalismo esquecido 3



sábado, 25 de julho de 2015

Em busca do ambientalismo esquecido 2



Rother no Bairro Alto 1

Aproveita o nosso Jardim a comparência de Michael Rother na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, para relembrar o arrojo dos Neu!, que em pleno consulado do Rock Progressivo ajudaram a definir uma nova via para a música. O grupo foi um dos mais relevantes do Krautrock, designação integradora de uma complexidade que, ao contrário do afirmado esta semana num jornal nacional, esteve longe de se cingir a meia-dúzia de nomes, mesmo se atendermos à dimensão da então República Federal da Alemanha.



Em busca do ambientalismo esquecido 1

Foi há cerca de vinte anos que se construiu uma sólida fortaleza ambiental, um verdadeiro refúgio contra a aceleração de várias músicas de então. As ferramentas eram semelhantes, mas os ambientalistas aproveitaram as velhas lições de Brian Eno e juntaram-lhes ideias mais ou menos novas que a tecnologia ajudou a realizar. Infelizmente, alguns dos discos desta vaga atingem hoje preços estapafúrdios, sem que se vislumbre uma política séria de reedições.



sexta-feira, 24 de julho de 2015

Ainda Nova Iorque

E como ontem terminámos o dia na tal cidade que nunca dorme, vem mesmo a propósito recordar uma das expressões mais puras de um espaço aberto aos estímulos que chegavam de várias partes do Planeta. Os Konk integraram, em porções difíceis de apurar, o tropicalismo particular, porque filtrado pelo ambiente de Manchester, dos A Certain Ratio e a herança mais direta das comunidades negra e latina de Nova Iorque. Ouvi-los é, ainda hoje, uma felicidade.



Chandra aos 12 anos de idade

É uma recém-chegada ao nosso Jardim, um quase mito que ficou praticamente esquecido em pleno Pós-Punk. Chandra gravou pouquíssimo, mas aproveitou a criatividade que sacudia Nova Iorque em 1980 e respirou o oxigénio fabricado por Talking Heads, ESG e Bush Tetras. Kate é uma delícia na voz de uma adolescente de 12 anos, mas de garras bem afiadas.



terça-feira, 21 de julho de 2015

Mick em Portugal 1

Já por cá passou, mas como se encontra a fazer uma minidigressão pelo país – com duas datas nas improváveis, mas afortunadas, Faro e Ílhavo –, o antigo Birthday Party e The Bad Seeds, Mick Harvey, merece bem o regresso ao nosso Jardim. No bornal, o australiano traz unicamente o universo de Serge Gainsbourg, garantia de duas noites magníficas.



Paredes e os seus discípulos 7



domingo, 19 de julho de 2015

Saudades dos Shriekback 2



Saudades dos Shriekback 1

O tempo leva muitos dos discos que, um dia, nos pareceram capazes de resistir à corrupção. Tudo passa, ressalvando-se as exceções, que nem serão poucas. Contraditoriamente, esta memória esquecida permanece junto de nós, nos LP e CD que vamos juntando com empenhado prazer, até que um dia, sem motivo, nos lembramos de um grupo que há muito se tornara uma vítima do pó acumulado nas prateleiras. Hoje calha a vez a um velho amor do nosso Jardim, os Shriekback, que nunca estiveram propriamente esquecidos, mas apenas à espera de uma fraqueza dos nossos sentidos.



Longe do mundo 2



sexta-feira, 17 de julho de 2015

Longe do mundo 1

A trágica morte de Brian Jones – o mais belo dos Rolling Stones, segundo Genesis P-Orridge – ou o recolhimento quase hollywoodesco de Syd Barrett, membro fundador dos Pink Floyd, são dois factos da primeira divisão da mitologia do Rock. Deixando Jones de parte, visitemos a brevíssima obra do segundo, que com The Madcap Laughs (1970) ganhou o seu lugar na longa história da música urbana.



Paredes e os seus discípulos 4



terça-feira, 14 de julho de 2015

Paredes e os seus discípulos 2



Um clube americano 1

Os American Music Club foram um dos grandes grupos norte-americanos das últimas décadas, mas que nunca tiveram direito a uma campanha de reedições capaz e, talvez por isso, são pouco reconhecidos nos tempos que correm. Em todo o caso, como nunca se alinharam em lado algum, a sua música permanece tão admirável como da primeira vez em que foi escutada pelas plantinhas do nosso Jardim.



segunda-feira, 13 de julho de 2015

Um ano pela metade 7



Paredes e os seus discípulos 1

É fácil de perceber o pouco interesse dos músicos do Pop/Rock português dos anos 80 na riqueza nacional que herdáramos. Sem surpresa, os modelos inspiradores provinham do mundo anglo-americano e quase mais nada importava. No entanto, como seria possível continuar, ano após ano, a ignorar a proeminência de gente como José Afonso e Carlos Paredes? De há algum tempo para cá, este último transformou-se mesmo num farol de muitos guitarristas – Tó Trips, Norberto Lobo, Peixe, Filho da Mãe… – e o Jardim junta, a partir de agora, o mestre e alguns dos que se fizeram seus discípulos. 



A propósito de: Rip Rig & Panic - God (última)

Cada vez que toca, God desenha-se como uma Torre de Babel que logrou recuperar a unidade perdida. Pelo engenho de uma fatia da geração que viveu in loco a vertigem do Punk – mas que teve o discernimento de compreender a tempo a irrevogabilidade do seu ocaso –, múltiplas linguagens fundem-se numa coisa só e Bristol chega ao lugar onde o desejo de um antiquíssimo povo da Mesopotâmia havia soçobrado. Tanto tempo depois, o reencontro dos seres humanos numa só espécie – sem prejuízo da essencial pluralidade – foi outra vez possível.



domingo, 12 de julho de 2015

A propósito de: Rip Rig & Panic - God (3ª parte)

Pela primeira vez disponível em CD oficial desde a sua edição em 1981, God é o disco síntese da evolução do Punk para as extraordinárias experiências do seu pós (aceita-se Sextet, dos A Certain Ratio, como alternativa à altura) e a prova da existência de organismos quase invisíveis – pois largamente ignorados na vigência do período jurássico –, avidamente observados e reconhecidos nos anos da rebelião dos Sex Pistols. Assim, ao longo de God finca-se o corpo no frenesim rítmico que o Punk resgatou, franquea-se a alma ao sabor de paragens distantes (África; Oriente; Jamaica), abraça-se o Funk mais afiado, ajusta-se a espontaneidade do Jazz à medida desejada e não falta sequer a solidão do fraseado de um piano. Depois, no coração da música, opera-se a espantosa inserção das vozes de Neneh Cherry e de Ari Up, num jogo de instrumentos e vocábulos ora entrelaçados, ora arremetidos uns contra os outros, essencialmente radiosos, mas também tocados pela melancolia, sons e palavras num dilúvio de 40 minutos que se assemelha a uma escultura mutante forjada pela porção mais irreverente da natureza humana.



Um ano pela metade 6



sexta-feira, 10 de julho de 2015

A lírica dos Half Man Half Biscuit

A música Pop é servida por todo o género de poesia, mas não existe uma relação de proporcionalidade entre o seu grau de sofisticação e o interesse que as canções despertam. Na verdade, muitas coisas escritas, com a pena embebida em cerveja, num qualquer tasco podem ser ouro. Reflections in a Flat, dos ingleses Half Man Half Biscuit, é um exemplo de que não ser um letrista a sério pode, em muitos casos, revelar-se uma verdadeira bênção.



A propósito de: Rip Rig & Panic - God (2ª parte)

É verdade que a tempestade se nutria de slogans razoavelmente monolíticos, gerados a partir de uma amálgama de ideias em muito devedoras à cerveja, mas a tutela dos antigos foi-se quebrando e um amplo horizonte tomou conta de um espaço anteriormente inexistente. Quando o Punk se eclipsou (é bem sabido que ele não sobreviveu após 1978, descontando-se, bem entendido, as caricaturas a traço grosso), as sementes libertárias jogadas ao vento estavam já bem disseminadas pelo Reino Unido e a criação musical ganha uma expressão invulgarmente localista. A mitologia eternizou, via Factory Records, Manchester, mas Londres ousava mais: Metal Box (1979), dos PIL, ou os discos homónimos dos This Heat e dos Flying Lizards, o primeiro também de 79, o outro chegado 1 ano depois. Numa Sheffield industrialmente decadente fazia-se fé na veia poética das máquinas, ideia largamente importada de Dusseldorf. Fora dos centros habituais, a vida dava à costa nos lugares mais improváveis e Cardiff lega à história da pop o silêncio peculiar dos Young Marble Giants, mas, talvez, em nenhum outro sítio tanto terá sido feito como em Bristol, pedaço do sudoeste inglês: The Pop Group, Glaxo Babies, Maximum Joy e, principalmente, Rip Rig & Panic.



quarta-feira, 8 de julho de 2015

Um ano pela metade 4



A propósito de: Rip Rig & Panic - God (1ª parte)

Na história da música popular há pequeníssimos gestos capazes de gerar a mais improvável das tormentas, afiados momentos dotados de uma força transformadora passível de desmoronar as fortalezas mais inexpugnáveis. Em Agosto de 1975, um jovem de 19 anos calcorreava King´s Road, no bairro londrino de Chelsea, desafiando os deuses com um curto e belicoso “I Hate” estampado numa t-shirt do grupo Pink Flody. A custo (quase) zero começava então uma revolta operária contra as certezas graníticas do rock dos anos setenta e o aparato tecnológico que o sustentava é posto em sentido pela simplicidade guitarra eléctrica/baixo/bateria. Os Sex Pistols viveram pouco tempo (1975-1978) e publicaram apenas um LP em 77, mas a golpes certeiros de navalhadas sónicas, devidamente temperadas por quantidades apreciáveis de saliva, inventaram o aluvião que irrigará uma geração temporariamente Punk, que logo depois intuiu o verdadeiro sentido do desafio lançado por Johnny “Rotten” à cartilha de setenta. Os velhos heróis do rock progressivo não desapareceram, mas a sua influência minimalizou-se – embora os anos tenham devolvido, no corpo de alguns vencedores do presente, o seu narcisismo cénico –, ao mesmo tempo que o epíteto de “dinossauros” os transforma numa coisa que experimenta a contradição da convivência entre o batimento cardíaco e o fim, irreversível, de uma época.



segunda-feira, 6 de julho de 2015

Um ano pela metade 1

Cumprida metade de 2015, continua a enxurrada de edições imprópria para as curtas 24 horas que o dia disponibiliza à espécie humana, já para não falar no esforço financeiro que um acompanhamento minimamente digno de um apreciador de música pressupõe. Numa palavra, demasiada oferta para tão pouco tempo e dinheiro. Mas sobeja largamente a vontade de ouvir.



Memória da adolescência 7



sábado, 4 de julho de 2015

Um guerrilheiro do Rock português 3



Guitarras ao alto

Depois da explosão de criatividade da segunda metade dos anos 80 com epicentro na editora Ama Romanta – que concedeu à música nacional uma dimensão apátrida nunca mais repetida –, o Pop/Rock português americanizou-se à sombra de Daydream Nation (1988), dos Sonic Youth. Nesta vaga afirmava-se como chefe de fila o grupo Tina And The Top Ten e o disco Teenage Drool (1994) é o legado máximo de mais uma geração que o tempo engoliu.



Memória da adolescência 6



Uma geração de guitarras 3



quarta-feira, 1 de julho de 2015

Um guerrilheiro do Rock português 2



Uma geração de guitarras 1

C86 foi o instrumento de uma geração que se lançou na Pop a partir das façanhas de grupos como Orange Juice, The Smiths e The Jesus & Mary Chain. A cassete viu a luz do dia em 1986 por intermédio do então relevante New Musical Express e transformou-se na imagem da juventude britânica imediatamente antes da viragem a caminho de uma música mais subsidiária da eletrónica.



terça-feira, 30 de junho de 2015

Voz ao Krautrock 3



Memória da adolescência 4



Um guerrilheiro do Rock português 1

O nome não fará soar campainhas, mas a verdade é que o guitarrista Jorge Ferraz Martins já cá anda há mais de trinta anos. Seria razoavelmente aborrecido referir os grupos que inventou, alguns deles com direito a disco. Será, talvez, mais fácil afirmá-lo como o mais irredutível e esquivo guerrilheiro que o Rock português conheceu em todos estes anos, conforme se provará.



sábado, 27 de junho de 2015

Memória da adolescência 1

Vá lá saber-se porquê, mas um dos grupos mais importantes da adolescência do nosso Jardim não teve ainda o mais que esperado espaço. Os The Smiths foram o último caso sério da Pop inglesa, pois tiveram uma influência que esteve muito longe de se reduzir aos sinais exteriores da adulação. Dito de outro modo, não importava apenas a androgenia subtil ou o corte de cabelo de Morrisey, mas também ler Oscar Wilde e gostar do Alain Delon. Quem o conseguiu, posteriormente, de forma tão alargada?



sexta-feira, 26 de junho de 2015

Música Marginal Portuguesa 6



Voz ao Krautrock 1

Krautrock é uma designação tão vaga como Pós Punk, um mero nome utilizado para agrupar uma vasta realidade, mas que apresenta um substrato comum relacionado com um determinado espaço e uma época concreta. Dito diferentemente, trata-se de um certo Pop/Rock alemão sobrevindo nos anos 70, que tomou partido pelo inconformismo e foi capaz de dar um novo alento à música. Na realidade, uma vasta família a reclamar uma identidade forjada fora do eixo anglo-americano, como o Jardim notará a partir de agora.



Música Marginal Portuguesa 5



terça-feira, 23 de junho de 2015

Weill na voz de Ute

A propósito de um filme alemão recentemente visto – Phoenix, de Christian Petzold –, trazemos ao nosso Jardim uma velha canção de Kurt Weill, Speak Low (1943). A interpretação é da cantora Ute Lemper, que gravou, pelo menos, dois discos dedicados ao repertório do compositor. A uma determinada altura, Ute teve mesmo direito à simpatia de muitos portugueses – com discos vendidos e tudo –, bastante merecida, diga-se.



Música Marginal Portuguesa 2



segunda-feira, 22 de junho de 2015

No tempo do Psicadelismo 2



Música Marginal Portuguesa 1

Poder-se-ia chamar música marginal portuguesa a este segmento de música, feita em território nacional, raramente ouvida, vista ou discutida. Ainda assim, lá se foram gravando uns discos, na maior parte dos casos sem o legítimo direito a reedição. A escolher o nome mais heroico desta saga solitária, os Telectu desempenhariam, como ninguém, esse papel.



domingo, 21 de junho de 2015

O subúrbio inventa o Rock português 3



No tempo do Psicadelismo 1

No universo do Pop/Rock, compilar os sinais de uma determinada geração é um exercício comum, talvez narcisista, mas de extrema utilidade para a preservação da memória. Depois de outros exemplos, viajamos agora a alguns momentos áureos do Psicadelismo com Nuggets: Original Artyfacts From The First Psychedelic Era 1965-1968, disco mais precioso do que todas as discografias juntas dos psicadélicos recém-chegados e num ápice transformados em santos dos nossos dias.   



sábado, 20 de junho de 2015

Pop Dell ´ Arte numa noite de verão

Sábado à noite, uma noite de quase verão, a ironia desencantada dos Pop Dell´ Arte, a voz de João Peste, um mistério inventado em Campo de Ourique.



Uma escolha referendada

Não será uma democracia tão antiga como a inglesa, mas o nosso Jardim orgulha-se dos seus princípios de respeito pela vontade popular, neste caso bem impregnada de clorofila. No último ato emanado deste espírito, referendou-se a canção que nunca podia ter sido feita senão nos anos 80. A escolha, com um resultado esmagador, foi Primitive Painters, fruto da momentânea parceria entre os Felt e Elizabeth Fraizer, dos Cocteau Twins. Afinal, ainda é possível acreditar na retidão cívica das nossas gentes.



Em busca de Robert Haigh 7



quinta-feira, 18 de junho de 2015

Uma voz do presente 3



O subúrbio inventa o Rock português 1

Passados mais de 35 anos, é difícil imaginar, face à presente abundância, o estado do Pop/Rock português no final da década de 70. Nas palavras de António Manuel Ribeiro, os seus UHF surgiram do nada, como um sinal de vida num cenário quase lunar. Na verdade, aqui e ali despontavam outros prenúncios, como o LP Música Moderna (1979), dos Corpo Diplomático, mas a maré só engrossara no ano seguinte e os almadenses gravam o primeiro disco da vaga Rock, À Flor da Pele (1981). Rui Veloso até editou antes o seu LP, mas sem a apropriada contundência do subúrbio.



segunda-feira, 15 de junho de 2015

Em busca de Robert Haigh 4



Uma voz do presente 1

Enquanto a norte-americana Meredith Monk se passeia pelo nosso Jardim, passa também por ele a voz de Holly Herndon no disco Platform, de 2015. De certa forma, ambas pertencem à mesma família, mas enquanto Monk começou com as circunstâncias dos anos 70, Herndon vive imersa no mundo digital que a Internet encerra. Mas o princípio e o fim de tudo continua a ser a voz humana.