O Jardim de Inverno dos Nibelungos é uma fanzine online e não pretende mais do que fazer a crónica de um mundo onde o exílio é voluntário. Sejam bem-vindos.
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Angústia no Hip Hop
Nascido na rua, é a ela que o Hip Hop deve a sua
vocação essencialmente realista. O nativo de Los Angeles Earl Sweatshirt não
negará esta herança, mas em Burgundy traça uma abordagem psicológica às suas
próprias vicissitudes no momento da criação musical. Da digressão interior empreendida sobre a dificuldade de rimar ao jeito dos estereótipos do
género resulta, inequivocamente, uma canção angustiada, mas – e é aqui que radica a
mestria – livre do abismo da autocomiseração.
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Sabedoria escandinava
Os noruegueses Drum Island viveram fugazmente,
mas não precisaram de muito para exemplificar como se pega nos recursos da
tecnologia e se inventa um disco liberto dos malefícios mais comuns da música
eletrónica – ritmo a galope; vertigem física. O segredo é duplo: por um lado, a
desaceleração do batimento cardíaco, por outro, a capacidade de retratar uma
paisagem gelada a partir da utilização de uma paleta de cores quentes.
O coração do Jardim
O assento de nascimento do coração deste Jardim
data de maio de 1966 e, como em qualquer organismo animal, a sua vocação é
disseminar o sangue essencial à conservação da vida. Sem este músculo tão
íntimo, nenhuma espécie prosperaria e o nosso Jardim não passaria de um campo
árido, sem esperança de se envaidecer pela frescura dos seus recantos. Pet Sounds, dos The Beach Boys, é o coração que veio de outro mundo, pois o seu tecido só pode resultar do acesso
privilegiado a material e engenho provenientes de um lugar incerto. Muitos o
demandaram, mas apenas Brian Wilson lhe conhece as exatas coordenadas.
domingo, 28 de setembro de 2014
A loucura rítmica dos The Feelies
Quem os visse fotografados em 1980, poderia imaginá-los,
talvez, estudantes de Química ou Geologia, mas nunca os tomaria
como parte integrante de qualquer coisa Rock. E no entanto, os The Feelies
gravaram aquele que será, porventura, o único exemplar de uma espécie por eles
criada, essencialmente baseada numa ansiedade acelerada, mas bem controlada por
ideias rigorosas sobre os malefícios do excesso de gorduras. Crazy Rhythms é o
resultado desta hiperatividade vigiada: por um lado, frenético e nevrótico; por
outro, modelado pelo princípio que quanto mais a música corre, mais ela carece de
oxigénio para se estender, indefinidamente, no tempo.
sábado, 27 de setembro de 2014
Melhor sozinhos
Os Ornatos Violeta foram um caso geracional no
Pop/Rock português, o que facilmente se comprova na intensa comoção em redor do seu efémero
regresso. Por outro lado, os lisboetas Osso Exótico há muito que vivem na
clandestinidade, apesar do pequeno culto que os anima. De comum nada têm, exceto partilharem a
singularidade de dois antigos membros – Manuel Cruz e Bernardo Devlin – conseguirem a solo o que nunca lograram nos lugares originais.
Reviver Dada em Sheffield
Há
muitas formas de vasculhar o passado. Talvez a mais singular seja trazer à
superfície aquilo que apenas o saber dos compêndios guarda. Por
isso, lembrar um tempo há muito ausente não pode ser
confundido com um gesto puramente revivalista, ainda mais se o passado nos
devolve uma subversão ignorada. E se os deuses estiverem de feição, talvez umas
gramas da transgressão original abençoem quem relembra o que ficou lá
atrás. Por exemplo, o casal Hugo Ball/Emmy Hennings montou o seu palco Dada – o
Cabaret Voltaire – em Zurique em plena 1ª Guerra Mundial e, 60 anos volvidos,
três jovens da lúgubre Sheffield escolheram o nome da velha casa suíça para
mergulhar nas manobras subversivas da primeira (e, na verdade, talvez única)
geração da música industrial. Resta saber se a mais viva radicalidade
dos Cabaret Voltaire (ativa nos anos 70 – colagens, ruído, poesia das máquinas
–, da qual Yashar já não faz parte) seria suficiente para participar, nem que fosse, na mais
pacata sessão das loucas noites de Zurique.
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Um casamento perfeito
Não há cinema sem música, seja qual for o grau de
envolvimento entre as partes. Para além das canções que lhes concede, a música
preenche os espaços dos filmes, dá-lhes espessura dramática e favorece o desenvolvimento
da narrativa. Nalguns casos, a visualização do filme é praticamente indistinta
da audição da sua banda sonora. Um exemplo esclarecedor desta quase fusão entre
imagens e música é Aguirre, o Aventureiro, de Werner Herzog, com paleta sonora
a cargo de um dos mais misteriosos grupos do Krautrock, os Popol Vuh.
Acrescenta-se que o filme é sobre um aventureiro quinhentista que, em busca do
El Dorado, acaba por morrer, à mercê das garras do destino, como um viking.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
A alma dos The Phantom Band
A música Pop/Rock manifesta, desde há mais de 50
anos, uma capacidade de autorregeneração de fazer inveja a certas espécies animais.
Desiludam-se os partidários da superioridade desta ou daquela geração, pois a
música tem sempre sabido encontrar o seu caminho. Mas esta capacidade está
longe de se verificar por todo o lado em cada presente vivido. Alguns idolatram
quase maniacamente e replicam os modelos do passado, enquanto outros,
avisadamente, submergem em busca dos materiais de outrora, depois decompostos,
reconfigurados e injetados, a par de uma nova perspetiva, numa outra realidade.
Os The Phantom Band pertencem a esta última categoria e, por isso mesmo, têm
pleno direito a alma própria.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
A New Wave dos Devo
Nunca falha: basta pronunciar as palavras New
Wave, para que se escute, vindo de algum recanto do Jardim, o rumorejo Devo…
Ignora-se se a sua origem estará nalguma espécie mais nostálgica da viragem da
década de 70 para 80, mas a verdade é que estes rapazes do Ohio são o testemunho perfeito de
uma época. Em Gut Feeling, um ritmo catatónico toma o lugar da sujidade Punk.
Mais New Wave que isto não há.
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Esqueçam a indústria das ancas
O planeta delira com a hipersexualidade que a
indústria vai engendrando à boleia de uma determinada ideia do que é a música
negra. Pin-ups cantoras (ou vice-versa, tanto faz) ganham milhões e
transformam-se, segundo sábios da área financeira, em figuras de influência
planetária, poder que, aparentemente, deve assentar, em primeiro lugar, nas
magníficas linhas de cintura que exibem. Contraditoriamente, não se pode
ignorar que, nalguns casos, esta dimensão sexual chega a roçar o patético,
exatamente porque os seus promotores pretendem ignorar o valor inestimável do secretismo
que envolve a intimidade a dois. Lantejoulas à parte, felizmente que
continua a ser possível viajar até ao outro lado, aquele lugar especial onde a
música, mesmo que anónima e privada de cenários aparatosos, vale por si.
domingo, 21 de setembro de 2014
Um passeio pela Rive Gauche 1
Subtil ou meramente panfletária, pacata ou
industrial, mais devedora da tradição ou empenhada em desvendar o futuro, com
maior ou menor engenho poético e nos mais variados idiomas e feitios, a música de feição política é um formato abundantemente praticado desde há dezenas de
anos. Dêmos, meio à deriva, um pequeno passeio por esta margem
esquerda da música.
sábado, 20 de setembro de 2014
A vida para lá do desastre
Há anos que a indústria musical tenta reanimar o
seu próprio cadáver com injeções massivas de adrenalina digital, mas os resultados não têm sido propriamente transcendentes. Mas se é verdade que uma determinada
estrutura imperial colapsou, o mesmo não se dirá da música em si. Na verdade,
ela prolifera por todo o lado, mas – e é esta a grande diferença – em edições
mais pequenas, dinamizadas por gente que compreendeu a urgência de ir ao
encontro dos melómanos sobreviventes ao naufrágio. Por isso, é possível
continuar a ouvir encontros inesperados, como este que junta um grupo enamorado,
ainda que de forma heterodoxa, pela pista de dança e um antigo colaborador de
Laurie Anderson e do já desaparecido Arthur Russell.
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
A lição que veio do frio
Da loira Suécia vem um ótimo exemplo de
concisão: explicar, em pouco mais de 3 minutos, o antes e o depois da vida de
um adolescente que experimenta, pela primeira vez, o gesto mágico de baixar uma
agulha sobre um disco. Numa curta canção, apreende-se o poder transformador da
música, embora haja quem precise de livros inteiros para o explicar.
Os mil rostos de Berlim
A diversidade é um bem essencial ao espírito
humano e é na grande cidade que melhor a experimentamos. A urbe fervilha e
ideias radicalmente diferentes entre si podem viver afastadas por uns meros
quarteirões. Se pensarmos em Berlim, recorda-se o tom grave do filme As Asas do
Desejo, de Wim Wenders, o período alemão de David Bowie, o pesadelo industrial
dos Einsturzende Neubauten ou, mais recentemente, a vaga de música tecno. A
capital germânica já não será tão lembrada pelo grupo Extended Spirit – uma luz radiosa
despontada na Prússia –, que, a bem da tal pluralidade, pode ser aqui
apreciado ao lado do veterano Blixa Bargeld.
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
A invasão urbano-depressiva 1
Talvez Manchester tenha sido o quartel-general
inicial da vaga urbano-depressiva, mas rapidamente a mancha alastrou pela
Europa, persistindo por vários anos com diversas ramificações e designações.
Para sublinhar a forte identidade tribal, a relevância do código de vestuário atingiu um grau
de exigência raramente observado. Os Bauhaus exemplificam bem essa obsessão, monotonamente
reproduzida em muitas cidades europeias. Com o Heavy Metal, a vaga
urbano-depressiva foi a última grande tribo da música Pop/Rock.
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Don & Neneh
Falar de um Cherry é sempre um bom pretexto para
falar de outro. O trompetista foi um nómada incansável, viajando por mil e uma
linguagens ao lado de muitos companheiros, enquanto a cantora se envolveu com
um dos melhores grupos do Pós-Punk – Rip Rig & Panic –, optando, mais
tarde, por uma carreira a solo feita de vários hiatos. Apesar das diferenças
geracionais, a cumplicidade que o padrasto Don e a enteada Neneh viveram prova que a
abertura de espírito é sempre a atitude mais sensata a adotar pelos seres
humanos.
O raríssimo sussurro da bruxa
Leslie Winer pouco mais aparece do que o cometa
Halley. Já nos cruzámos com a ex-modelo por intermédio de Personals, de Jon Hassell,
mas o que agora importa é o seu LP Witch, de 1993. O feitiço de Winer está na voz, que ressoa lenta e misteriosamente por entre os recantos mais
solitários da grande cidade. Witch é notívago, para ouvir ao longo das
horas que vão desenhando a madrugada, mas não manifesta sintomas
urbano-depressivos típicos, embora também esteja muito longe de ser um salvo-conduto
para o bem-estar. A fúria domesticada de Leslie devia aparecer mais vezes.
segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Uma voz sobrevivente
A vida está longe de ser uma coisa certa e
ninguém sabe o que lhe está reservado. Ver de perto os efeitos da parte mais
sombria da natureza pode deixar um nó na garganta, ainda mais quando a memória
guarda vivamente o esplendor de um passado. No início dos anos 80, os Orange Juice
davam mais calor às Ilhas Britânicas do que o próprio Sol e muito o devíamos ao
cantor Edwyn Collins. Por causa de graves problemas de saúde, o seu corpo é
hoje uma pálida imagem do que era, mas a voz foi, com toda a certeza, protegida
pelo Olimpo.
domingo, 14 de setembro de 2014
O futuro que veio da caserna
A música Pop/Rock é uma espécie capaz de
florescer numa infinidade de ecossistemas. Há de tudo: bandas de garagem,
cantores que partem do coro da igreja local para o mundo, grupos de antigos
colegas de escola ou de amigos de bairro, aspirantes com ou sem formação musical, vocalistas e instrumentistas
recrutados em anúncios de jornal e até gente que dá os seus primeiros passos a partir
duma caserna, como é o caso dos The Monks, inteiramente formados por soldados
norte-americanos a cumprir o serviço militar na antiga Alemanha Ocidental.
Ignora-se a existência de outros no mesmo segmento, mas é certo que estes foram
capazes de inventar em 1966 um LP, Black Monk Time, tão próximo do primitivismo
do Rock, como do seu futuro a acontecer 10 anos depois.
sábado, 13 de setembro de 2014
Viver e morrer num mundo de série b
Até à morte em 2009 de Lux Interior, os The
Cramps foram, durante mais de 30 anos, os fiéis depositários do espírito marginal
do Rock. Devotos prospetores de obscuridades das décadas de 50, 60 e 70, o
casal Poison Ivy/Lux Interior viveu imerso numa fantasia de série b: velhos
filmes de ficção científica, banda desenhada de terror dos anos 50, singles da
Sun Records, mulheres vestidas de cabedal com o sexo masculino a seus pés, carros contemporâneos do nascimento do Rock… Os The Cramps viveram e morreram com a
alma sintonizada nos pântanos do Louisiana.
Sharon
Sharon Van Etten não tem a estatura de Anna
Calvi, mas escutá-la é igualmente uma bênção. Distingue-a aquela rara virtude
de escrever de forma angulosa sobre temas corriqueiros – desejo, insatisfação,
amor, separação –, dispondo as palavras numa música tensa, nalguns momentos
quase espasmódica, mas nunca emproada. A sua voz assemelha-se a um navio que
voga intrepidamente sobre um mar tortuoso. Your love Is killing Me é um dos mais
poderosos fármacos de 2014.
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
A cultura do corpo, segundo os Liquid Liquid
Interpretações literais à parte, Who needs to
think when your feet just go?, verso retirado de Genius of Love, dos Tom Tom
Club, poderia muito bem ter servido de lema a uma geração nova-iorquina que,
apesar de crescida no seio de um tremendo caldeirão intelectual, percebeu que a
música é tão devedora do corpo como da mente. Os Liquid Liquid foram dos melhores
intérpretes desta lição: que o pensamento não cerceie o corpo.
A arte do sampling 1
Na era do sampling, os
salteadores da música de outrora entregam, de bom grado, a alma em troca da
partícula sonora perfeita, resgatada em devotas peregrinações a discos mais ou
menos obscuros. Depois, estes pedaços de música revivem num novo corpo e a sua
proveniência fica esquecida, até que alguém tropeça ou repara no lugar original
daquele instante feito matéria-prima pela tecnologia. Sem sampler, não estariam
cá alguns discos de valor inestimável e o Hip Hop seria um
assunto de ficção.
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Um pai urbano-depressivo
Apesar de outros influentes, talvez se possa
atribuir a Leonard Cohen a paternidade honorária da vaga urbano-depressiva que
assolou o Pop/Rock desde o final dos anos 70. A tonalidade melancólica e austera da
sua música parece ter embalado parte de uma geração crescida no Punk e, logo a
seguir, caída na vertigem do seu pós mais cinzento. Por isso, sabe bem juntar
aqui a editora fetiche da época, a Factory Records, e o canadiano, de quem é certo dizer que nunca gravou um mau disco.
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Acabar o dia a sonhar
Chegar a casa com o
tronco amotinado de cansaço, as pernas desengonçadas, a cabeça a prometer
uma dor… As consequências de um dia de trabalho podem ser especialmente duras.
Resta o apaziguamento do fiel sofá e de uma música para escutar de luzes
apagadas e sonhar...
A luz e a sombra, segundo Pedro Caldas
Um ótimo filme português,
Guerra Civil (2010), de Pedro Caldas, nunca estreou pelo facto da sua banda
sonora integrar canções sem a devida autorização legal. O lamento é duplo: o
filme é virtuoso e, se tivesse oportunidade, poderia ser capaz de escavacar os
minúsculos nichos onde o cinema nacional teima, tantas vezes, habitar; a
música também vai bem e funciona como uma engrenagem fundamental da história.
Siouxsie, a divindade gótica primordial, anda por lá na companhia dos seus
Banshees, enquanto a sombra da Joy Division é uma verdadeira personagem de
carne e osso. Ao invés, aos Orange Juice cabe o papel de Sol.
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Viva o Krautrock!
E naquele tempo
proliferavam na Terra os pastelões sinfónicos, seres de carne abundante e pose
altiva, devidamente saturados de paramentos tecnológicos. O seu domínio era
extenso, mas não total: algumas ilhas resistiam com ferocidade e afirmavam que
havia vida fora do Rock Progressivo. Tinham, felizmente, razão, como foi depois
confirmado pelos golpes fatais desferidos pela horda Punk nas carcaças das
velhas criaturas. Glória ao espírito combativo do Krautrock!
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Entre os melhores dos anos 90
Depois de um domingo
imerso na insalubridade dos nossos pântanos, descansamos o corpo à sombra dos
melhores discos dos anos 90, como, por exemplo, Blue Lines, dos Massive Attack,
e Dressing for Pleasure, de Jon Hassell & Bluescreen. Bem, na verdade – e
Deus nos perdoe se uma ou outra suscetibilidade sair combalida –, não há, naquela década, melhor, embora outros possam, também, exibir justamente tal dignidade.
domingo, 7 de setembro de 2014
Pelos pântanos do Jardim 1
Todos recordamos os
passeios de domingo à tarde da nossa infância: uma visita familiar, um lanche
num qualquer lugar apinhado, Sintra, Mafra, a rua dos Pescadores, na Costa da
Caparica, ou o Centro Comercial Imaviz como destinos prediletos. Hoje,
retomamos o velho hábito e vagueamos pelos recantos mais inóspitos do nosso
Jardim, espaços pouco arejados onde habitam as espécies mais misantropas e
avessas ao contacto humano. De venenosas a carnívoras, tudo se pode encontrar.
sábado, 6 de setembro de 2014
O amor incondicional por uma baixista
Como pode alguém duvidar
das propriedades curativas da música? Não pensamos em patranhas espirituais,
peixinhos New Age a nadar alegremente em qualquer era do aquário ou lago parecido, mas sim no bom e velho sobressalto físico. No Olimpo da New Wave
nova-iorquina, a figura de Tina Weymouth permaneceu sempre ensombrada pela
loira Debbie Harry, dos Blondie, mas ninguém se agitava em palco como a
baixista dos Talking Heads. A prova do tal poder capaz de atiçar um terramoto? A expressão dos seus olhos aos 2:21 min da interpretação de Genius of Love,
dos Tom Tom Club, no vídeo Stop Making Sense.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
O Jardim original
Talvez a inspiração,
ainda que inconsciente, para este Jardim venha de um outro com mais de 30 anos.
Virginia Astley raríssimos sinais de vida deu ao longo de todo este tempo, mas o
seu From Gardens Where We Feel Secure continua a ser um lugar fora do tempo e do espaço, delicadamente construído pela justaposição de graciosas telas que se diriam saídas de um atelier
impressionista. A reconhecida sensibilidade da alma lusitana terá, porventura,
justificado a sua edição nacional, em 1984, pela Fundação Atlântica.
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Anna Calvi, Anna Calvi, Anna Calvi!!!
Haverá alguém que possa,
nos dias que correm, fazer frente a Anna Calvi? Já não se trata apenas do
impacto de uma estreia que deixou meio mundo boquiaberto, mas antes da
justíssima entronização com o último Strange Weather, disco preenchido com
canções alheias, mas feitas, para todo o sempre, prisioneiras da virtude
transfiguradora de Calvi. É verdade que há ótimas cantoras em atividade, mas
nenhuma outra voz nos sulca a pele e deixa na carne uma marca física tão difícil de esquecer. Em 2014, nada se lhe compara.
Memória instrumental 1
Este Jardim abriga todo
o género de espécies, das mais endémicas às especialmente raras e exóticas, não
esquecendo as delicadas, pouco acostumadas à sobre-exposição solar. É por
isso justo aprumar um canteiro para acolher exemplares menos notados, como é o
caso do tema instrumental, em regra relegado para uma função essencialmente
figurativa no universo Pop/Rock. Para já, estacionemos em Portugal.
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