quinta-feira, 30 de abril de 2015

O feitiço de Nova Orleães 1

Mais genuíno é difícil: Dr. John nasceu na sulista Nova Orleães, Luisiana, e o seu primeiro LP, Gris-Gris (1968), relembra que o Rock é uma entidade misteriosa feita à medida do lado mais sombrio da espécie humana. Por isso, o sucesso foi curto, mas, também exatamente pelo mesmo motivo, o culto foi intenso e duradouro, basta pensar nos norte-americanos The Cramps.   



terça-feira, 28 de abril de 2015

Uma princesa no Jardim 4



Aristocracia germânica 1

Foi uma fatia saborosa da adolescência, um disco ouvido incontáveis vezes, uma memória ainda hoje saciada pelo regresso mais ou menos rotineiro a Aristocracie, dos alemães Phillip Boa and The Voodooclub. Sem grande relevância para a história conhecida da Pop, fica a delícia de um grupo amado por poucos, mas, como diz sabiamente a voz do povo, bons. Aristocracie para sempre!, exclama um republicano.



sábado, 25 de abril de 2015

Um feriado justo 1

A Revolução tem a sua banda sonora – José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Fausto, Luís Cília… –, mas o dia 25 de abril de 1974 não escancarou apenas as portas aos velhos combatentes, pois ele foi o primeiro do processo de construção de uma nova cultura jovem, que, na Pop, frutificará no final dos anos 70. O melhor exemplo deste Portugal novo – ainda que bastante minoritário, como acontecera aos modernistas reunidos na revista Orpheu há exatamente 100 anos – será o LP Free Pop (1987), dos Pop Dell´ Arte, que faz da liberdade e do inconformismo irmãos inseparáveis na vida, ainda que, para nosso mal, prevaleça a mera visão formal da liberdade.



Uma princesa no Jardim 2



quinta-feira, 23 de abril de 2015

Uma princesa no Jardim 1

PJ Harvey deu já sinal de vida no nosso Jardim, mas a sua proeminência nos últimos vinte anos de Pop/Rock justifica plenamente uma dedicatória alargada a uma das melhores cantoras da atualidade. To Bring You My Love (1995) e White Chalk (2007) são, provavelmente, os discos preferidos das nossas plantinhas, mas é rigoroso dizer que a inglesa nunca esteve perto de desiludir a frescura em que teimamos habitar.



As canções de Godinho 7



quarta-feira, 22 de abril de 2015

De São Francisco a Bruxelas 4



Um urso no Jardim 1

Não têm a notoriedade dos The National – que, no presente, são o melhor exemplo de um grupo capaz de crescer sem virar costas aos seus princípios –, mas os Grizzly Bear não esqueceram a importância de fazer música capaz de suscitar, de fio a pavio de um disco, o interesse, o que lhes permite elevarem-se de um quotidiano onde a formação torrencial de grupos, projetos e aventuras sortidas se tornou numa banalidade à medida da Internet.



domingo, 19 de abril de 2015

Juventude lusa contra a fancaria 6



De São Francisco a Bruxelas 1

Os Tuxedomoon viram a luz do Sol aquando da tremenda vaga Pós-Punk, mas enquanto muitos outros pereceram sem que tivessem encontrado o caminho que os arrancasse daquela cápsula histórica, os são franciscanos mudaram. Em Bruxelas encontraram a melancolia que só os lugares carregados de passado possuem e a sua música ganhou um paisagismo cinemático mais europeu que norte-americano. Também a não perder são as aventuras a solo dos membros do grupo.



sexta-feira, 17 de abril de 2015

O mais gaulês dos britânicos

Bill Pritchard nasceu inglês, mas a sua música sempre exibiu uma forte costela francófona, o que lhe deu uma coloração própria num mundo dominado pelo eixo anglo-americano. A Pop de Pritchard sugere dias mais radiosos, ao mesmo tempo que atribui à melancolia uma sensualidade rara em grande parte dos seus compatriotas dedicados a igual ofício. 



Juventude lusa contra a fancaria 4



terça-feira, 14 de abril de 2015

De Coventry para o mundo 3



Juventude lusa contra a fancaria 1

A televisão portuguesa vive um estranho caso de exaltação/negação no seu discurso sobre a música Pop que se faz por cá. Por um lado, propaga a ideia feita da capacidade nacional em sermos tão bons como os outros, ao mesmo tempo que raramente entreabre as suas portas à vitalidade emergente. Traduzindo, os três canais alavancam a sua seleção musical em consagrados, vencedores de concursos de talentos, subprodutos como a família Carreira e estrelas africanas de equivocada africanidade, enquanto a verdadeira vida, a bordo de nomes mais ou menos conhecidos, é proscrita em nome do superior interesse da ignorância.



domingo, 12 de abril de 2015

A fúria dos The Fall 2



De Coventry para o mundo 1

Não é segredo nenhum a preferência do nosso Jardim pelo período do Pós-Punk. Talvez a explicação esteja no contraste entre esse passado e os tempos que correm, ou seja, entre uma ideia de pertença a um espaço – editoras, discos, fanzines, jornais, palcos – e a presente tendência para a imaterialidade. Tal visão não desqualifica a música de hoje, mas impele, recorrentemente, a vontade até aos mil caminhos daquele momento histórico, neste caso através dos The Specials, que sublinharam a diversidade como o maior tesouro da espécie humana.



sexta-feira, 10 de abril de 2015

A fúria dos The Fall 1

Nasceram no tempo do Punk, nunca o foram na sua verdadeira aceção, mas, contraditoriamente, jamais expulsaram por completo a virose com que contactaram nos idos de 1977. Os The Fall são exatamente isto, uma memória viva de um tempo de luta e o eterno Mark E. Smith é o dínamo incansável de um brado de desconfiança, que tem como alvo o mundo contemporâneo que nos é, diariamente, servido à colherada.



As canções de Godinho 1

Já conta com mais de quarenta anos de carreira, mas apesar da notabilidade da sua música, Sérgio Godinho continua a não ser consensual entre os portugueses. É verdade que começou a sua caminhada junto da vaga histórica informalmente liderada por José Afonso e que cantou os anseios de 74/75, mas será absurdo circunscrevê-lo à ideia de trovador político. Consideremo-lo antes um músico comprometido com valores humanistas, expressos, em doses acertadas de simplicidade e sofisticação, em dezenas de canções memoráveis.



quinta-feira, 9 de abril de 2015

Tropicália 2



Tropicália 1

Há discos que têm a virtude de sintetizar a complexidade de um determinado momento, fixando, por gerações, um mundo que o tempo levou. Os exemplos são aos montes: No New York (1978), Divergências (1986), Lonely is an Eyesore (1987), Headz: A Soundtrack Of Experimental Beathead Jams (1994) ou, o que agora nos interessa, Tropicália ou Panis et Circencis, disco que em 1968 cartografou a música inconformista de um Brasil subjugado ao cinzentismo de um poder avesso à liberdade.



quarta-feira, 8 de abril de 2015

Solidários com Bickle

Regressa a música de Bernard Herrmann ao nosso Jardim, desta vez a bordo de Taxi Driver, filme de 1976 realizado por Martin Scorsese. Robert Niro estava então na plenitude e interpreta a personagem de um desenraizado consumido pelo desejo de limpar a noite nova-iorquina das mil e uma perversões que a habitam. No entanto, o banho de sangue por si provocado acaba por ser digno do perdão de todos nós, que, no fundo, não deixamos de partilhar a angústia de Travis Bickle.



O bom canadiano 7



terça-feira, 7 de abril de 2015

Memória de Magalhães 7



Alexandre a sós

Olhando para os factos, um criminalista não teria dificuldades em encontrar uma relação irrefutável entre o período de glória estética dos GNR e a presença de Alexandre Soares durante aqueles anos de ouro. O gosto pela música não é uma ciência exata, mas o Jardim tende a concordar com as evidências. Para baralhar ainda mais, devolve-se á vida um disco de 1988 assinado por Soares, Um Projecto Global. Demasiado desconhecido, é um momento de interlúdio entre a saída do guitarrista dos GNR e o renascimento da sua arte a bordo dos Três Tristes Tigres. 



domingo, 5 de abril de 2015

Uma escolha pascal

Não é uma espécie habitual no nosso Jardim, mas o Domingo de Páscoa justifica a escolha para hoje. Acima de tudo, esperemos que seja um dia de paz e amizade entre todos, devidamente fruído em família. Um abraço do Jardineiro de serviço!



sexta-feira, 3 de abril de 2015

Zorn na cidade

Acompanhar o ritmo discográfico de alguns músicos pode obrigar à manifestação de comportamentos obsessivos, tal a dificuldade que a tarefa é suscetível de apresentar. Entre os vivos, os casos de Fred Frith, Bill Laswell ou John Zorn são especialmente complexos, com participações dispersas por inúmeros discos. Com o último ao comando, os Naked City fizeram mossa em Lisboa e transformaram-se num dos mais reconhecidos rostos de Zorn.



A centelha dos Sparklehorse 2



quinta-feira, 2 de abril de 2015

Jefferson tinha um avião 2



A centelha dos Sparklehorse 1

Os Sparklehorse estão hoje mais ou menos esquecidos, mas no início do terceiro milénio o seu disco It´s a wonderful life foi uma imensa declaração de fé na inesgotável capacidade de renovação do Pop/Rock. Como faziam música demasiado discreta, estiveram consideravelmente afastados das imensas minorias no presente tão incensadas, mesmo que a bordo seguisse a inimitável PJ Harvey.



Memória de Magalhães 5