quinta-feira, 30 de julho de 2015

Para lá dos hits 1

Da vaga primordial do Rock português (80/81), os Heróis do Mar e os GNR foram, durante meia década, os grupos mais consistentes. Sobreviveram ao desastre de 82/83 e mantiveram sempre o contacto com a realidade – discos, concertos, visibilidade na imprensa –, mesmo nos momentos mais difíceis. O maior hit dos portuenses é exatamente desse tempo de contração, Dunas. Fugindo ao reconhecimento imediato, o Jardim vai até à sombra e traz à luz do dia canções menos presentes, mas que provam inequivocamente a arte dos GNR de então.



As lições do Capitão 2



terça-feira, 28 de julho de 2015

A Natureza, segundo Ian Simmonds 1

Para o nosso Jardim, Ian Simmonds gravou um dos melhores discos dos anos 90, Last states of nature, mais uma peça esquecida num mundo bem mais interessado nas tricas dos grandes palcos. Posto isto, fica então o planeta a perder a inquietude deste ex-Sandals, que, pela eletrónica, retrata um paisagismo que não podia ser mais contrastante com o imaginário habitualmente associado às dádivas da Natureza.



Em busca do ambientalismo esquecido 5



segunda-feira, 27 de julho de 2015

Em busca do ambientalismo esquecido 4



As lições do Capitão 1

Ainda que os seus discos tenham conhecido diferentes graus de radicalidade, é indesmentível que Captain Beefheart foi um zelador incansável da vocação incendiária do Rock, metáfora que o Black Metal norueguês levou às últimas consequências pela ação de gente como Samoth e Varg Vikernes, respetivamente dos grupos Emperor e Burzum. Nota de rodapé à parte, Beefheart legou ao mundo um ensinamento para muitas gerações: o Rock é, essencialmente, um assunto que respeita às vísceras, com o coração destinado a interpretar um papel secundário.



Em busca do ambientalismo esquecido 3



sábado, 25 de julho de 2015

Em busca do ambientalismo esquecido 2



Rother no Bairro Alto 1

Aproveita o nosso Jardim a comparência de Michael Rother na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, para relembrar o arrojo dos Neu!, que em pleno consulado do Rock Progressivo ajudaram a definir uma nova via para a música. O grupo foi um dos mais relevantes do Krautrock, designação integradora de uma complexidade que, ao contrário do afirmado esta semana num jornal nacional, esteve longe de se cingir a meia-dúzia de nomes, mesmo se atendermos à dimensão da então República Federal da Alemanha.



Em busca do ambientalismo esquecido 1

Foi há cerca de vinte anos que se construiu uma sólida fortaleza ambiental, um verdadeiro refúgio contra a aceleração de várias músicas de então. As ferramentas eram semelhantes, mas os ambientalistas aproveitaram as velhas lições de Brian Eno e juntaram-lhes ideias mais ou menos novas que a tecnologia ajudou a realizar. Infelizmente, alguns dos discos desta vaga atingem hoje preços estapafúrdios, sem que se vislumbre uma política séria de reedições.



sexta-feira, 24 de julho de 2015

Ainda Nova Iorque

E como ontem terminámos o dia na tal cidade que nunca dorme, vem mesmo a propósito recordar uma das expressões mais puras de um espaço aberto aos estímulos que chegavam de várias partes do Planeta. Os Konk integraram, em porções difíceis de apurar, o tropicalismo particular, porque filtrado pelo ambiente de Manchester, dos A Certain Ratio e a herança mais direta das comunidades negra e latina de Nova Iorque. Ouvi-los é, ainda hoje, uma felicidade.



Chandra aos 12 anos de idade

É uma recém-chegada ao nosso Jardim, um quase mito que ficou praticamente esquecido em pleno Pós-Punk. Chandra gravou pouquíssimo, mas aproveitou a criatividade que sacudia Nova Iorque em 1980 e respirou o oxigénio fabricado por Talking Heads, ESG e Bush Tetras. Kate é uma delícia na voz de uma adolescente de 12 anos, mas de garras bem afiadas.



terça-feira, 21 de julho de 2015

Mick em Portugal 1

Já por cá passou, mas como se encontra a fazer uma minidigressão pelo país – com duas datas nas improváveis, mas afortunadas, Faro e Ílhavo –, o antigo Birthday Party e The Bad Seeds, Mick Harvey, merece bem o regresso ao nosso Jardim. No bornal, o australiano traz unicamente o universo de Serge Gainsbourg, garantia de duas noites magníficas.



Paredes e os seus discípulos 7



domingo, 19 de julho de 2015

Saudades dos Shriekback 2



Saudades dos Shriekback 1

O tempo leva muitos dos discos que, um dia, nos pareceram capazes de resistir à corrupção. Tudo passa, ressalvando-se as exceções, que nem serão poucas. Contraditoriamente, esta memória esquecida permanece junto de nós, nos LP e CD que vamos juntando com empenhado prazer, até que um dia, sem motivo, nos lembramos de um grupo que há muito se tornara uma vítima do pó acumulado nas prateleiras. Hoje calha a vez a um velho amor do nosso Jardim, os Shriekback, que nunca estiveram propriamente esquecidos, mas apenas à espera de uma fraqueza dos nossos sentidos.



Longe do mundo 2



sexta-feira, 17 de julho de 2015

Longe do mundo 1

A trágica morte de Brian Jones – o mais belo dos Rolling Stones, segundo Genesis P-Orridge – ou o recolhimento quase hollywoodesco de Syd Barrett, membro fundador dos Pink Floyd, são dois factos da primeira divisão da mitologia do Rock. Deixando Jones de parte, visitemos a brevíssima obra do segundo, que com The Madcap Laughs (1970) ganhou o seu lugar na longa história da música urbana.



Paredes e os seus discípulos 4



terça-feira, 14 de julho de 2015

Paredes e os seus discípulos 2



Um clube americano 1

Os American Music Club foram um dos grandes grupos norte-americanos das últimas décadas, mas que nunca tiveram direito a uma campanha de reedições capaz e, talvez por isso, são pouco reconhecidos nos tempos que correm. Em todo o caso, como nunca se alinharam em lado algum, a sua música permanece tão admirável como da primeira vez em que foi escutada pelas plantinhas do nosso Jardim.



segunda-feira, 13 de julho de 2015

Um ano pela metade 7



Paredes e os seus discípulos 1

É fácil de perceber o pouco interesse dos músicos do Pop/Rock português dos anos 80 na riqueza nacional que herdáramos. Sem surpresa, os modelos inspiradores provinham do mundo anglo-americano e quase mais nada importava. No entanto, como seria possível continuar, ano após ano, a ignorar a proeminência de gente como José Afonso e Carlos Paredes? De há algum tempo para cá, este último transformou-se mesmo num farol de muitos guitarristas – Tó Trips, Norberto Lobo, Peixe, Filho da Mãe… – e o Jardim junta, a partir de agora, o mestre e alguns dos que se fizeram seus discípulos. 



A propósito de: Rip Rig & Panic - God (última)

Cada vez que toca, God desenha-se como uma Torre de Babel que logrou recuperar a unidade perdida. Pelo engenho de uma fatia da geração que viveu in loco a vertigem do Punk – mas que teve o discernimento de compreender a tempo a irrevogabilidade do seu ocaso –, múltiplas linguagens fundem-se numa coisa só e Bristol chega ao lugar onde o desejo de um antiquíssimo povo da Mesopotâmia havia soçobrado. Tanto tempo depois, o reencontro dos seres humanos numa só espécie – sem prejuízo da essencial pluralidade – foi outra vez possível.



domingo, 12 de julho de 2015

A propósito de: Rip Rig & Panic - God (3ª parte)

Pela primeira vez disponível em CD oficial desde a sua edição em 1981, God é o disco síntese da evolução do Punk para as extraordinárias experiências do seu pós (aceita-se Sextet, dos A Certain Ratio, como alternativa à altura) e a prova da existência de organismos quase invisíveis – pois largamente ignorados na vigência do período jurássico –, avidamente observados e reconhecidos nos anos da rebelião dos Sex Pistols. Assim, ao longo de God finca-se o corpo no frenesim rítmico que o Punk resgatou, franquea-se a alma ao sabor de paragens distantes (África; Oriente; Jamaica), abraça-se o Funk mais afiado, ajusta-se a espontaneidade do Jazz à medida desejada e não falta sequer a solidão do fraseado de um piano. Depois, no coração da música, opera-se a espantosa inserção das vozes de Neneh Cherry e de Ari Up, num jogo de instrumentos e vocábulos ora entrelaçados, ora arremetidos uns contra os outros, essencialmente radiosos, mas também tocados pela melancolia, sons e palavras num dilúvio de 40 minutos que se assemelha a uma escultura mutante forjada pela porção mais irreverente da natureza humana.



Um ano pela metade 6



sexta-feira, 10 de julho de 2015

A lírica dos Half Man Half Biscuit

A música Pop é servida por todo o género de poesia, mas não existe uma relação de proporcionalidade entre o seu grau de sofisticação e o interesse que as canções despertam. Na verdade, muitas coisas escritas, com a pena embebida em cerveja, num qualquer tasco podem ser ouro. Reflections in a Flat, dos ingleses Half Man Half Biscuit, é um exemplo de que não ser um letrista a sério pode, em muitos casos, revelar-se uma verdadeira bênção.



A propósito de: Rip Rig & Panic - God (2ª parte)

É verdade que a tempestade se nutria de slogans razoavelmente monolíticos, gerados a partir de uma amálgama de ideias em muito devedoras à cerveja, mas a tutela dos antigos foi-se quebrando e um amplo horizonte tomou conta de um espaço anteriormente inexistente. Quando o Punk se eclipsou (é bem sabido que ele não sobreviveu após 1978, descontando-se, bem entendido, as caricaturas a traço grosso), as sementes libertárias jogadas ao vento estavam já bem disseminadas pelo Reino Unido e a criação musical ganha uma expressão invulgarmente localista. A mitologia eternizou, via Factory Records, Manchester, mas Londres ousava mais: Metal Box (1979), dos PIL, ou os discos homónimos dos This Heat e dos Flying Lizards, o primeiro também de 79, o outro chegado 1 ano depois. Numa Sheffield industrialmente decadente fazia-se fé na veia poética das máquinas, ideia largamente importada de Dusseldorf. Fora dos centros habituais, a vida dava à costa nos lugares mais improváveis e Cardiff lega à história da pop o silêncio peculiar dos Young Marble Giants, mas, talvez, em nenhum outro sítio tanto terá sido feito como em Bristol, pedaço do sudoeste inglês: The Pop Group, Glaxo Babies, Maximum Joy e, principalmente, Rip Rig & Panic.



quarta-feira, 8 de julho de 2015

Um ano pela metade 4



A propósito de: Rip Rig & Panic - God (1ª parte)

Na história da música popular há pequeníssimos gestos capazes de gerar a mais improvável das tormentas, afiados momentos dotados de uma força transformadora passível de desmoronar as fortalezas mais inexpugnáveis. Em Agosto de 1975, um jovem de 19 anos calcorreava King´s Road, no bairro londrino de Chelsea, desafiando os deuses com um curto e belicoso “I Hate” estampado numa t-shirt do grupo Pink Flody. A custo (quase) zero começava então uma revolta operária contra as certezas graníticas do rock dos anos setenta e o aparato tecnológico que o sustentava é posto em sentido pela simplicidade guitarra eléctrica/baixo/bateria. Os Sex Pistols viveram pouco tempo (1975-1978) e publicaram apenas um LP em 77, mas a golpes certeiros de navalhadas sónicas, devidamente temperadas por quantidades apreciáveis de saliva, inventaram o aluvião que irrigará uma geração temporariamente Punk, que logo depois intuiu o verdadeiro sentido do desafio lançado por Johnny “Rotten” à cartilha de setenta. Os velhos heróis do rock progressivo não desapareceram, mas a sua influência minimalizou-se – embora os anos tenham devolvido, no corpo de alguns vencedores do presente, o seu narcisismo cénico –, ao mesmo tempo que o epíteto de “dinossauros” os transforma numa coisa que experimenta a contradição da convivência entre o batimento cardíaco e o fim, irreversível, de uma época.



segunda-feira, 6 de julho de 2015

Um ano pela metade 1

Cumprida metade de 2015, continua a enxurrada de edições imprópria para as curtas 24 horas que o dia disponibiliza à espécie humana, já para não falar no esforço financeiro que um acompanhamento minimamente digno de um apreciador de música pressupõe. Numa palavra, demasiada oferta para tão pouco tempo e dinheiro. Mas sobeja largamente a vontade de ouvir.



Memória da adolescência 7



sábado, 4 de julho de 2015

Um guerrilheiro do Rock português 3



Guitarras ao alto

Depois da explosão de criatividade da segunda metade dos anos 80 com epicentro na editora Ama Romanta – que concedeu à música nacional uma dimensão apátrida nunca mais repetida –, o Pop/Rock português americanizou-se à sombra de Daydream Nation (1988), dos Sonic Youth. Nesta vaga afirmava-se como chefe de fila o grupo Tina And The Top Ten e o disco Teenage Drool (1994) é o legado máximo de mais uma geração que o tempo engoliu.



Memória da adolescência 6



Uma geração de guitarras 3



quarta-feira, 1 de julho de 2015

Um guerrilheiro do Rock português 2



Uma geração de guitarras 1

C86 foi o instrumento de uma geração que se lançou na Pop a partir das façanhas de grupos como Orange Juice, The Smiths e The Jesus & Mary Chain. A cassete viu a luz do dia em 1986 por intermédio do então relevante New Musical Express e transformou-se na imagem da juventude britânica imediatamente antes da viragem a caminho de uma música mais subsidiária da eletrónica.