domingo, 31 de maio de 2015

A eternidade ao virar da esquina 3



Psicadélicos e Eletrónicos 1

Por vezes, basta um ajustamento na coloração para assegurar um lugar na história, como aqui provaram visitantes tão ilustres como os norte-americanos The Monks e The United States of America. Exemplar é também o caso dos Silver Apples, que viveram no tempo do Psicadelismo, mas gravaram dois discos a experimentar, precocemente, os trilhos da eletrónica. Por isso, foram também importantes para a definição de muita música que haveria de chegar nas décadas seguintes.



O passado vivificado 4



sábado, 30 de maio de 2015

Melhor do que qualquer encontro carnal!

Vinte mil homens a marchar
São Bento em peso a suplicar
As tias a suspirar
Por rei d' aquém e além mar
Tenho cerejas do Fundão
Comemos tortas d' Azeitão
Abaixo as torres de Ofir
Que eu quero consumir



quarta-feira, 27 de maio de 2015

O passado vivificado 2



O passado vivificado 1

A partir do cruzamento do espólio da música tradicional portuguesa com as ferramentas disponibilizadas pela tecnologia tem sido possível recriar e recontextualizar o passado em diferentes presentes, sem que nenhuma polémica significativa se instale. Sétima Legião, Megafone – do precocemente desaparecido João Aguardela –, as aventuras de César Prata ou Medeiros/Lucas passam, a partir de agora, pelo nosso estimado Jardim.



segunda-feira, 25 de maio de 2015

A arqueologia ao serviço da Pop 7



Outro Ping Pong

A propósito do Ping Pong Lovers, dos Milky Wimpshake, alguma plantinha mais atenta do nosso Jardim se lembrou de outro Ping Pong, desta vez dos ingleses Stereolab, que contavam com a francesa Lætitia Sadier como vocalista. Por acaso, também estes tinham a política na agenda, embora as fontes da sua música fossem outras (Krautrock, minimalismo ou música brasileira), tudo devidamente aromatizado pelo sabor vintage dos sintetizadores que utilizavam.



domingo, 24 de maio de 2015

A estatura de Sufjan Stevens 2



O estado de alma dos Milky Wimpshake 1

Há muitas formas de procurar o passado. A mais comum é o gesto nostálgico de reproduzir, a todo o custo, uma época irrecuperável, o que transforma, muitas vezes, a música em mera assombração. Mais incomum será aquela praticada pelos Milky Wimpshake, de Newcastle, que preferem viver um estado de alma ciclicamente experimentado por gerações precedentes, como uma luz interior que vai passando dos mais velhos para os mais novos. No caso, feita de franqueza Punk, consciência política e alguns traços da Pop inglesa de finais dos anos 80 registada por editoras como a Sarah Records.



sábado, 23 de maio de 2015

A eternidade ao virar da esquina 2



A estatura de Sufjan Stevens 1

Não chegámos ainda a meio do ano e é certo que muitos discos enxergarão a luz do dia até 31 de dezembro, mas será difícil que se venha a ouvir outro da estatura de Carrie & Lowell, do norte-americano Sufjan Stevens. Nesta incursão pela sua família, o natural de Detroit revela uma capacidade ao alcance de pouquíssimos: fazer da intimidade mais pungente a matéria de canções que recusam as agruras da vida como fim em si mesmo, modalidade que muitos preferem praticar até à náusea.



quinta-feira, 21 de maio de 2015

A arqueologia ao serviço da Pop 5



Os dias dos The Dream Syndicate 1

São da mesma geração dos R.E.M. e beberam das mesmas fontes – Big Star e Television, por exemplo –, mas enquanto aqueles ganharam reconhecimento planetário, os The Dream Syndicate foram bastante mais modestos no seu impacto. Ainda assim, gravaram discos importantes e suscitaram um culto duradouro. O LP The Days of Wine and Roses (1982) continua a ouvir-se com agrado e merece justamente uma pequena digressão pelos seus recantos.



quarta-feira, 20 de maio de 2015

O cometa Fay 3



A eternidade ao virar da esquina 1

Miles Davis atravessou décadas de Jazz, nunca se furtando ao diálogo com o ar dos tempos. Por isso mesmo, o trompetista correu riscos e ouviu reparos, mas o que realmente importa é que deixou uma obra colossal, que perdurará por incontáveis gerações. Por agora, o nosso Jardim mergulha em Kind of Blue (1959) e In a Silent Way (1969), duas maravilhas do século XX.



A arqueologia ao serviço da Pop 4



segunda-feira, 18 de maio de 2015

35 anos depois

O nosso Jardim não é especialmente dedicado à comemoração de efemérides, mas condescende-se sempre uma exceção. Há 35 anos – 18 de maio de 1980 – morria Ian Curtis, vocalista dos ingleses Joy Division. Se um daqueles magos orientais nos prodigalizasse um único desejo, seria, com certeza, viajar até às noites irrepetíveis da Manchester de finais dos anos 70, um possível coração do Pós Punk.



A arqueologia ao serviço da Pop 3



domingo, 17 de maio de 2015

Trinta e quatro

Trinta e quatro campeonatos sem aditivos – olá Casagrande –, sem o gangue do guarda abel, sem graçolas saloias aduladas por gente a ganhar à conta de deusas, sem o minúsculo pedroto, sem fruta de dormir e sem café com leite, sem jornalistas prostitutos, sem árbitros em busca de aconselhamento pessoal... Trinta e quatro campeonatos feitos de Nobreza e Grandiosidade. Por aqui, este é inteiramente dedicado a João César Monteiro.  



Música para serpentes, segundo Canavarro 2



sábado, 16 de maio de 2015

A arqueologia ao serviço da Pop 2



Música para serpentes, segundo Canavarro 1

Sem que se entenda bem porque, os LPs dos Corpo Diplomático e dos Street Kids nunca foram reeditados, ainda que sejam essenciais para a afirmação da Pop em Portugal. Ambos os grupos viveram brevemente, mas os seus músicos encontraram abrigo noutras peles. Dos segundos saíram Nuno Rebelo (Mler Ife Dada e muita coisa depois) e Nuno Canavarro, que gravou o tão fascinante quanto ignorado Plux Quba - Música para 70 Serpentes (1988). Sem grande surpresa, será mais conhecido lá fora, mas o Jardim não esquece esta delicada obra eletrónica atenta à pulsação do mundo.



sexta-feira, 15 de maio de 2015

A arqueologia ao serviço da Pop 1

O labor arqueológico dedicado à reedição não se resume a um gosto nostálgico por uma época que se foi, pois integra uma parte pedagógica importante: mostrar o que esteve sepultado décadas a fio, revelando uma vida na qual quase ninguém reparou. A editora inglesa Soul Jazz Records é, porventura, imbatível neste milagre de trazer à luz do dia música excitante e incorrupta, apesar da idade que possa ter. Os alemães E.M.A.K. são, entre muitos outros, merecedores de resgate.



O cometa Fay 2



quinta-feira, 14 de maio de 2015

Whatever happened to... 7



O cometa Fay 1

Entre 1970 e 2015, Bill Fay gravou quatro discos de originais, o que faz do pianista londrino um quase cometa Halley, que não sucumbiu, para todo o sempre, ao esquecimento, porque nos anos 90 se ergueu um mini culto em seu redor. Resgatados os primeiros discos, foi possível a Fay recomeçar e não lhe tem sido especialmente difícil encontrar um lugar importante na esgotada cena musical dos nossos dias.



terça-feira, 12 de maio de 2015

Uma facada sueca 3



A ligeira heterodoxia dos The Fiery Furnaces 1

A Pop dos norte-americanos The Fiery Furnaces não seria, no verdadeiro sentido da expressão, experimental, mas podia, muito bem, ser considerada como inesperada. Enquanto viveram, tiveram direito ao seu culto nas franjas do mercado, mas, como tantos outros, mereciam um reconhecimento que os colocasse no lugar que tanta mediocridade vai, indevidamente, ocupando.



domingo, 10 de maio de 2015

A Pop marciana dos The B-52´s 3



Uma facada sueca 1

No vasto oceano da música eletrónica, seriam necessários dias de, pelo menos, 48 horas para acompanhar com algum zelo a torrente editorial de maxi-singles. O trabalho será um pouco menos árduo no que respeita a discos mais extensos, os, num passado quase Neolítico, ditos LP. Na verdade, preencher um disco de música eletrónica obriga a uma sábia combinação entre o factor humano e o potencial das máquinas, o que não está ao alcance de qualquer um. Os suecos The Knife pertencem, definitivamente, ao restrito grupo dos eleitos.



sexta-feira, 8 de maio de 2015

A Pop marciana dos The B-52´s 1

Os The B-52´s foram os marcianos ao serviço da New Wave norte-americana. A sua profunda singularidade não foi suscetível de fácil replicação, como qualquer teledisco pode facilmente testemunhar. Para os seus discos, quase tudo serviu de matéria-prima: perucas, o cosmos, lagostas, satélites, planetas ou até a velha Mesopotâmia, berço da civilização. Os The B-52´s são os nossos alienígenas preferidos.



Uma princesa no Jardim 7



quinta-feira, 7 de maio de 2015

Whatever happened to... 3



A música invisível

Não que seja um caso de música nunca ouvida – facto cada vez mais difícil de se observar –, mas a aventura do britânico Saxon Roach a bordo do nome Ix Tab congrega, interessantemente, vários sinais das correntes mais excêntricas da música Pop. Por vezes, a estranheza que se instala acerca-se do mistério que os velhos Coil foram capazes de imprimir na sua música. Pena é que o culto da invisibilidade imposto pelo próprio Roach impeça que os seus raros discos vão para além do ínfimo culto. 



terça-feira, 5 de maio de 2015

Whatever happened to... 1

Foi chão que deu boas uvas durante os anos 90, mas, pouco a pouco, toda uma frente eletrónica parece ter soçobrado e saído de cena. O nosso Jardim não procura respostas, nem desenvolve teorias de natureza científica, mas somente se propõe devolver à luz do dia o esplendor de uma geração perdida no labirinto da música Pop.



A Pop dos antípodas 2



segunda-feira, 4 de maio de 2015

Uma princesa no Jardim 6



A Pop dos antípodas 1

No universo da língua inglesa, há uma óbvia predominância da Pop anglo-americana, mas seria um erro grosseiro ignorar o território mais longínquo da diáspora inglesa, a Austrália. Na verdade, a antiga colónia britânica deu ao mundo nomes tão indispensáveis como Nick Cave, mas se este se transformou numa figura bastante conhecida, outros permaneceram sempre numa relativa obscuridade, enfim, não marginais, mas essencialmente objeto de culto. Os The Triffids são um exemplo magnífico deste viveiro dos antípodas.



domingo, 3 de maio de 2015

O feitiço de Nova Orleães 3



João Loureiro, o Urbano-Depressivo

Na primeira metade dos anos 80, o universo musical dos Joy Division tinha, em Portugal, filiais abertas em Lisboa e no Porto, respetivamente Sétima Legião e Ban, estes do boavisteiro João Loureiro. Enquanto os primeiros se repartiam entre a influência de Manchester e o apelo da tradição, os segundos eram bastante mais literais na promoção do cinzentismo urbano-depressivo, como a canção Alma Dorida (1984) tão bem esclarece. Mais tarde viraram os Ban que a história registou como Pop sofisticada.



Uma princesa no Jardim 5



sexta-feira, 1 de maio de 2015

O mês de Maio, segundo José Afonso 2



O mês de Maio, segundo José Afonso 1

Hoje é o dia Primeiro de Maio, porventura o mais universal dos feriados – inventado nos Estados Unidos e idolatrado nos países do antigo bloco soviético. Para fugir à literalidade política, o Jardim convoca, outra vez, o mais inspirado dos discos portugueses, Cantigas do Maio. Nele, a liberdade e o trabalho são a matéria-prima que a visão de José Afonso e a intuição de José Mário Branco transformam num retrato de um povo trespassado pela estupidez do poder.



Aristocracia germânica 3