quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

As palavras de Balla 3

Eu nunca dei um passo atrás
Que não fosse capaz de um dia o emendar
Sonhar com um outro futuro muito menos escuro
Que nos ponha a brilhar



Os grandes A.R. Kane 1

Está ainda hoje por explicar o que levou o afã classificador da imprensa britânica a chamar “The Jesus & Mary Chain negros” aos A.R. Kane, pois basta ouvir o seu LP de estreia – 69, editado em 1988 – para mensurar o disparate de tal comparação. No caso dos ingleses, trata-se de música com residência habitual nas nuvens, ainda que livre dos constrangimentos de alguma Pop mais tísica e devidamente diplomada em queixumes.  



terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

A ironia dos Negativland 1

Não é fácil dominar o excesso. Na música Pop/Rock, a vontade de experimentar os limites acarreta sérios riscos para a construção de uma discografia inteligível. Por exemplo, os norte-americanos Negativland padeceram, muitas vezes, desse turbilhão de ideias à deriva, mas em Escape from Noise, de 1987, ordenaram a torrente e conferiram sentido estético à ferocidade da sua ironia. De Michael Jackson à terapia psiquiátrica, nada lhes escapou.



Pessoa e Al Berto, pelos Wordsong 4




domingo, 22 de fevereiro de 2015

O mistério de Gin Gillette

Não se sabe com rigor a data de edição – algures no final da década de 50 – e pouco ou nada da autoria – Gin Gillette. Mas é exatamente esta neblina que faz de Train to Satanville uma daquelas peças depositárias do mistério original do Rock, que os The Cramps, autoinvestidos em empenhados zeladores da causa, perseguiram, incessantemente, ao longo de décadas.



Pessoa e Al Berto, pelos Wordsong 2



sábado, 21 de fevereiro de 2015

Pessoa e Al Berto, pelos Wordsong 1

Chamavam-se Wordsong e juntaram-se com o único propósito de trazer à música Pop nacional o convívio da poesia portuguesa, primeiro de Al Berto, depois de Fernando Pessoa. Claro que a qualidade dos poemas não garantia, só por si, o desfecho das canções, pois o segredo está sempre no olhar do sujeito. Pela heterodoxia das individualidades do grupo – por exemplo, Pedro d’Orey, um dos fundadores dos Mler Ife Dada –, essa perspetiva nunca poderia ser mera reverência, mas antes uma leitura livre e inquieta das palavras dos poetas.



O romantismo da escassez 3



sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Um OVNI de Detroit 2



As palavras de Balla 2

Vai-te embora, vai-te embora,
Vai-te embora, embora já.
Eu não gosto de ti
Mas tu gostas de mim
Toda a gente de quem gosto
Se apaixona por ti
Eu não gosto do mar
Nem tu gostas de mim



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

As palavras de Balla 1

Eu provavelmente morro com o fim da luta
Mas se te faz feliz eu paro
E recomeço com um ódio de amor
Que não nos faça tanto mal, que não nos torne mais amargos
E nos deixe sem dúvidas, eu
Provavelmente morro com o fim da luta, mas se te faz feliz...



A nossa querida Cat 3



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

O romantismo da escassez 2



A voz de Aretha

Não cabe ao nosso humilde Jardim proferir certezas inabaláveis sobre a grandeza deste ou daquela, pois só o tempo tem a prerrogativa de hierarquizar influências e tendências, muitas vezes subjugando os maiores a uma menoridade infame ou içando a mediocridade a um lugar onde não pertence. Mas apesar dos desvarios do tempo, é difícil negar que Aretha Franklin é a maior voz viva da música Pop, como, aliás, já o era há cinquenta anos.



terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Um OVNI de Detroit 1

Sufjan Stevens já não terá tempo para concretizar o seu plano monumental de gravar um disco para cada um dos estados norte-americanos, mas o que já fez é mais do que suficiente para marcar a música Pop/Rock dos últimos quinze anos. Stevens tem-se eximido à via sofrida de muitos dos seus compatriotas, em favor de um carrossel orquestral que faz da alegria e da tristeza sentimentos tão naturais como respirar. 



É só Fachada 2



segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

É só Fachada 1

O hiperativo B Fachada cometeu o primeiro deslize da sua vida musical: o seu último disco, de 2014, só está disponível digitalmente, o que é contrário ao gosto do Jardim pelo contacto com o objeto que precede a música. Por isso, a atenção ao inegável mérito de Fachada não inclui, em sinal de protesto, qualquer canção do ano passado. Mas ainda fica muito por onde ouvir.



O romantismo da escassez 1

Há 25/30 anos, um concerto era um acontecimento, não porque a música fosse então melhor, mas pela relativa raridade da vida no palco. Hoje, tudo é diferente e a oferta em Portugal não se sente diminuída em relação a outras geografias. Claro que a escassez tem uma dimensão romântica ausente da abundância e se, normalmente, não estava disponível a primeira linha, acabava por aparecer gente que nem sequer tinha cá discos à venda. Os industriais Bourbonese Qualk e a trupe gaulesa Achwghâ Ney Wodei são exemplos disso.



sábado, 14 de fevereiro de 2015

A história do bispo Valentim 2



A história do bispo Valentim 1

Valentim era um bispo do tempo do imperador Cláudio II, que por continuar a celebrar, contra a decisão imperial, matrimónios de jovens romanos, acabou martirizado (270) e, por isso, santificado. Hoje, Valentim não passa, como tantas outras coisas, de uma marca comercial. A seu pretexto, o Jardim relembra, neste fim-de-semana, algumas canções de filiação amorosa do agrado das florzinhas.



quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A nossa querida Cat 2



O périplo de Forss

Soulhack (2003), de Forss, foi uma extraordinária entrada para os primeiros passos do século XXI, ainda que se tenha tratado de um episódio com escasso desenvolvimento por parte de Eric Wahlforss, mais conhecido como fundador do SoundCloud. Ainda assim, fica a descrição de uma marcante viagem pela paisagem do Velho Continente, que apresenta um jovem em busca de uma sabedoria ancestral que nunca poderá ser experimentada por algum artifício tecnológico, mas somente pela respiração dos lugares.



quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O regresso de James Chance

James Chance estava lá, naquela Nova Iorque efervescente na curva dos anos setenta para os oitenta. Chance criou um estilo próprio, uma entidade mutante feita de Rock e Jazz, por vezes excessiva no seu afrontamento. Ainda que irregularmente, o saxofonista foi dando sinais de vida, mas a partir de 2010 torna-se mais presente com The Fix is In e Incorrigible! (2012). No primeiro, a música muda-se para a Califórnia da década de 40 e embala os cenários sombrios que a escrita superlativa de Raymond Chandler inventou.



Um São Valentim sangrento 2



terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O outro mundo de Brian Eno 3



A nossa querida Cat 1

Não tem faltado ao nosso Jardim a companhia de ótimas vozes femininas, a que se junta agora uma outra especialmente querida, a da norte-americana Cat Power. You Are Free, de 2003, será, porventura, o seu melhor disco, o que lhe concede a liberdade de passear entre os canteiros ansiosos pela doçura primaveril. Mas antes dele, já havia a tremenda Nude as the news, uma canção imersa nas terríveis exigências que a idade adulta sempre encerra.



Um São Valentim sangrento 1

O nosso Jardim tem mostrado as suas inclinações sobre o Rock produzido nos anos 80 – Sonic Youth, The Jesus & Mary Chain… Por acaso, ainda não soou outra preferência, os irlandeses My Bloody Valentine, ótimo nome inspirado no príncipe do crime organizado norte-americano, Al Capone. Quanto ao grupo de Kevin Shields, é outro feliz exemplo do encontro entre lirismo profundo e generosas doses de adrenalina.



domingo, 8 de fevereiro de 2015

O grupo que agradou a gregos e troianos 5



O Jogo Sagrado

Não são muitas as canções, com cenário futebolístico, que valham a pena. Mas porque hoje é dia de jogo sagrado, trazemos ao nosso Jardim uma que foge à regra da mediocridade, São Sete Voltas P´rá Muralha Cair, de Tiago Guillul, o pastor evangélico responsável pela editora Florcaveira. Para o fim fica um desejo pleno de espírito desportista: aconteça o que acontecer, que ganhe o Sport Lisboa e Benfica...



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

The United States of America

A ousadia, para ser bem sucedida, carece de uma – à primeira vista improvável – razoável aliança com o discernimento. A música excessivamente filiada numa vocação experimental torna-se derivativa e corre o risco de parecer futilmente estranha. Em 1968, os The United States of America conseguiram exatamente o inverso, quando confirmaram a observação do poeta sobre a estranheza que se vai entranhando, prova de vida do que vem para ficar.



Amazing Grace (Jones) 3



quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O grupo que agradou a gregos e troianos 3



Jimmy para sempre

Regressamos a Herrmann, Hitchcock e à obra suprema, que já foi aqui recordada a propósito do seu genérico. Logo no princípio de Vertigo, o enorme James Stewart (nunca mais houve outro igual) persegue um vulto pelos telhados de São Francisco e um agente policial acaba por perder a vida, momento traumático que vai despoletar a tragédia de Stewart. A música de Herrmann é o batimento cardíaco de um pesadelo que podia ter saído dos estúdios da UFA na década de vinte.



terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

De Bolonha ao Cupido 1

Tal como acontecera com os The Human League do segundo para o terceiro LP, também os Scritti Politti se transformaram profundamente depois de terem começado na trincheira mais politizada do Pós-Punk com o single Skank Bloc Bologna (1978). No entanto, quando saiu o LP Songs to Remember, em 1982, o passado era já um facto distante e ainda mais ficou com o segundo, Cupid & Psyche 85, que completou a metamorfose do grupo do galês Green Gartside.



Amazing Grace (Jones) 2



domingo, 1 de fevereiro de 2015

O grupo que agradou a gregos e troianos 1

É difícil encontrar um grupo tão hábil como os norte-americanos R.E.M. na gestão do prestígio somado ao longo de três décadas. Ao contrário de outros, o ganho de novos públicos nunca significou a perda dos anteriores e no fim da sua carreira continuavam a agradar aos velhos sonhadores do tempo romântico das rádios universitárias, gente que nunca se importou de partilhar o gosto com todos aqueles que só deram por Michael Stipe na altura de Losing My Religion.



O outro mundo de Brian Eno 1

A figura de Brian Eno é indissociável dos muitos progressos realizados pela música Pop/Rock nos últimos quarenta anos, influência que se reparte pela autoria e pela produção. Para além dos extraordinários LPs gravados com Jon Hassell e David Byrne, talvez Eno tenha o seu melhor disco em Another Green World, de 1975, no qual abandona a tempestade elétrica que o marcara antes e define um género atmosférico que a crítica cunhará como música ambiental.