quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O fogo-de-artifício de Detroit

Juan Atkins, aka Model 500, é o convidado de honra do Jardim de Inverno dos Nibelungos para a viragem de 2014 para 2015. É difícil imaginar mais belo fogo-de-artifício do que o de Detroit, sem desprimor para o Funchal… Feliz Ano Novo para todos nós!





A parentela dos Wire 3



terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A parentela dos Wire 2



Stevie nos anos 70

Stevie Wonder é um caso exemplar de como a extrema popularidade pode arrasar o prestígio conquistado ao longo de anos a fio. Em 1984, o famosíssimo I Just Called to Say I Love You foi o presente envenenado que o juntou, como nunca, às massas, mas, numa terrível contrapartida, o separou do que tinha notavelmente realizado com os LPs Talking Book (1972) e Innervisions (1973). É o que se pode designar, com propriedade, por um sucesso à maneira de Pirro.



Um universo chamado Bjork 5



segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Um trompete para a eternidade

Ninguém sabe que memória restará, fora dos nichos especializados, dos músicos da segunda metade do século XX, mas Miles Davis é um dos fortes candidatos a esse reconhecimento imediato, um pouco como acontece hoje com Bach ou Mozart. O trompetista norte-americano foi, desde os anos 50, uma personagem em constante reinvenção, gravando muito ao longo de várias décadas. Em 1958, Davis fez a banda sonora para Fim de Semana no Ascensor, um filme de Louis Malle que seria outra coisa sem a beleza da música que o percorre.



domingo, 28 de dezembro de 2014

A parentela dos Wire 1

O Jardim inaugura hoje um gabinete de estudos genealógicos, que tem por missão fazer o levantamento das tramas familiares que se expandem a partir de um determinado pater familias. Os ingleses Wire e a respetiva parentela são o primeiro objeto de estudo dos nossos especialistas. Publica-se, a partir de agora, o relatório sónico dos trabalhos desenvolvidos.



Um tesouro belga

É bem sabido que os louros da Pop belga dos anos 90 caíram direitinhos no regaço dos Deus, mas o Jardim avança outra hipótese para representar o Reino da Bélgica, os Pablo´s Eye, que, quase em segredo, desenharam uma Pop eletrónica polvilhada por um discreto travo étnico, tudo devidamente fundamentado pelos ensinamentos dos Young Marble Giants sobre a relevância musical do silêncio.



A voz do Algueirão 4



quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O Natal com os The Beach Boys 2



O Natal com os The Beach Boys 1

O Jardim incumbiu-se a missão de encontrar o mais perfeito disco de Natal. Não vale a pena justificar alongadamente a escolha, Pet Sounds, dos The Beach Boys, aquele que melhor concerta a magia e as vozes em desalinho da festa familiar com o mais profundo sentimento de recolhimento. Bom Natal!!! 



A voz do Algueirão 2



terça-feira, 23 de dezembro de 2014

As aventuras de Rui Reininho na Anar Band

Em 1977, o anónimo Rui Reininho juntou-se ao teórico Jorge Lima Barreto e gravaram o único LP da Anar Band. Tempos depois, o anónimo passou a figura de proa da Pop lusa e o teórico a chefe de fila da música portuguesa (quase) invisível. O tal disco estava muito mais perto do que viriam a ser os Telectu, fundados em 1982, mas Reininho talvez tenha tirado alguns apontamentos que serviriam, anos volvidos, para inspirar o desatino de meio Independança – o famoso Avarias.



segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Um universo chamado Bjork 3



A voz do Algueirão 1

O frenético parto do chamado Rock português (80-82) foi um fenómeno bipolar, com grupos de inegável qualidade – UHF; GNR; Heróis do Mar; Xutos e Pontapés – ao lado de outros que o pudor nos impede de citar. Após o excesso, chegou o quase deserto, só contrariado por sangue novo entretanto posto em circulação. A partir de 1983, os Rádio Macau participaram nesse comité de salvação do Pop/Rock nacional e a partir do Algueirão esboçaram uma música devedora do Pós-Punk, mas desde cedo aberta à ideia de canção Pop. O resultado foi uma carreira de merecido sucesso.



domingo, 21 de dezembro de 2014

Os arautos do terceiro milénio 2



O fumo de Bristol

Da santíssima trindade do Trip Hop, faltava ainda uma parte, Tricky. O nativo de Bristol fez-se notado nos Massive Attack de Blue Lines, mas depois prosseguiu fora do grupo, logo gravando uma peça essencial dos anos 90, Maxinquaye. Com a ajuda da sua mulher de então, Martina Topley-Bird, forjou um disco que continua a escapar às categorizações que lhe pretendem impor. Para o Jardim, Maxinquaye sempre pareceu o único disco da história em que a música é confecionada a partir do fumo libertado ao longo de madrugadas sem fim.



sábado, 20 de dezembro de 2014

Uma cidade de chocolate 3



A garagem dos The Sonics

O Jardim arrola mais uma parte constituinte do caldeirão que antecipou o golpe de estado Punk da segunda metade dos anos 70. Como outros, os The Sonics não eram especialmente devotos da virtude instrumental, insuficiência compensada pela espontaneidade que imprimiam à sua música. Apesar de relativamente desconhecidos, são um elo fundamental entre a energia original do Rock e os revolucionários que deram caça aos mastodontes progressivos. 



sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Os arautos do terceiro milénio 1

A carreira dos Spacek resume-se, praticamente, ao sensacional disco que lançaram em 2001, Curvatia. Sobre um cenário eletrónico, os ingleses apresentaram uma síntese de várias matrizes da música negra – Funk, Soul, Hip Hop –, que resultou numa Pop minimalista de enorme criatividade e sofisticação. Começava então o novo milénio sob os bons auspícios de Steve Spacek e restantes companheiros.



Uma cidade de chocolate 2



terça-feira, 16 de dezembro de 2014

As longas noites com Bram Stoker 5



Fora do tempo 1

Pensar 2014 como o tempo que medeia entre os dias 1 de janeiro e 31 de dezembro é o procedimento habitual para apurar os melhores do ano. Depois, restam as outras listagens para o que fica de fora: reedições, música portuguesa, etc. Mas levanta-se a pertinente questão: e se a melhor música que ouvimos este ano estiver, formalmente, encaixada nas reedições, mesmo que a esmagadora maioria nunca a tenha ouvido aquando da edição original? Por isso, o Jardim esquece os rigores do calendário e prefere viajar a um lugar onde floresce uma música sem idade.   



domingo, 14 de dezembro de 2014

Um universo chamado Bjork 1

Nos Sugarcubes, não passava de uma cantora sujeita às evidentes limitações alheias, mas depois, goste-se muito ou nem por isso, Bjork foi construindo o mais marcado universo dos últimos vinte anos da música Pop/Rock. Nele, a islandesa inventou galáxias distantes, desenhou sóis e planetas, justapôs paisagens geológicas de antanho a tecnologia de ponta, moveu oceanos e montanhas, sempre com o poder criador da sua voz a determinar o princípio e o fim de tudo.    



Uma cidade de chocolate 1

A música de George Clinton oscilou sempre entre o excesso e a sofisticação. De certa forma, os Funkadelic concorreram, habitualmente, para o desbragamento, enquanto os Parliament se quedaram no outro extremo. Chocolate City, dos segundos, é, no seio da discografia do músico, porventura o melhor exemplo do triunfo da sofisticação, que serve de veículo a uma mensagem bastante sintonizada com a causa negra: a cidade de chocolate é Washington D.C., onde o grupo era bastante popular nos anos 70.


     

sábado, 13 de dezembro de 2014

As longas noites com Bram Stoker 2



As longas noites com Bram Stoker 1

A propósito da recordação do gótico The Batcave, o Jardim revisita, ainda que moderadamente, as noites fumarentas daquele lúgubre género. À época, não havia recanto do mundo ocidental que não tivesse o seu bando gótico, avidamente mimetizando Robert Smith, Siouxsie Sioux, Nick Cave ou Peter Murphy. Quem quiser, que ponha as velhas roupas a arejar e venha daí beber uma cerveja com o espírito do Bram Stoker.



sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Os Golpes a cavalo

A música, felizmente, floresce por todo o lado, não escolhendo culturas, ideologias, latitudes, habilitações literárias ou, como agora nos interessa, classes socioeconómicas. Na verdade, o prazer da música vai do subúrbio mais distante à avenida de Roma, mas nem todos se lembram de rodar um teledisco com motivos equestres. Os Golpes fizeram-no para uma das suas ótimas canções.   



Calvi de volta

Regressa mais uma vez Anna Calvi ao nosso Jardim, onde as espécies mais devotas lhe erigiram um magnífico pedestal. Desire pertence ao seu álbum de estreia e às primeiras notas renova-se a fé na inexpugnável singularidade da música Pop/Rock.



quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Antes dos The Bad Seeds

Antes de estar com os The Bad Seeds, Nick Cave foi uma personagem principal do Pós-Punk australiano, primeiro nos The Boys Next Door, depois nos The Birthday Party, grupo especialmente influente na expansão da vaga gótica, movimento com poiso primordial no mítico clube londrino The Batcave, aberto em 1982. Quando residia em Londres, Cave era um dos mais notados frequentadores do lugar e talvez tivesse ouvido por lá o seu Mr. Clarinet.



A estranha história de Sixto Rodriguez

Apesar de já razoavelmente conhecida, vale a pena recontar a história de Sixto Diaz Rodriguez, operário de Detroit que, no início dos anos 70, gravou dois LPs praticamente ignorados no hemisfério norte, mas objeto de extrema devoção na África do Sul, facto absolutamente desconhecido do músico. Por isso, não viu um cêntimo dessa fama, mas viveu o suficiente para observar a sua música merecidamente resgatada de um profundo esquecimento pelo documentário À Procura de Sugar Man, de 2012. 


     

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O maravilhoso mundo de Russell 1

Arthur Russell desapareceu demasiado cedo deste mundo, mas, num gesto de enorme generosidade, deixou riqueza suficiente para partilhar, por muitos anos, com os que cá ficaram. A sua vida musical repartiu-se entre o gosto pela pista de dança nos tempos do Disco e o recolhimento numa Pop minimalista, que teve a sua obra suprema em World of Echo, de 1986. Há, portanto, muito por onde escolher. 



What ever happened to Scott Walker? 3



segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Melancolia na pista de dança

Os Sensory Productions habitaram melancolicamente a pista de dança e, por isso, a sua música tem vida assegurada muito para além da função hedonista reservada à maioria dos ritmos que se agitam entre a luz e a sombra das discotecas. O disco Fear of Flying, de 1996, é a manifestação suprema de uma singularidade, o ensimesmamento noctívago.   



Mildred Pierce...

Ainda não chegou a hora de defender a candidatura dos Sonic Youth ao trono do Olimpo. Por hoje, chegam-nos como veículo para tornar à Hollywood dos anos 40, década maior do Film Noir. Mildred Pierce/Almas em Suplício (1945), de Michael Curtiz, é uma tremenda visão sobre a manipulação e o egoísmo extremos, que são aqui a engrenagem para o homicídio. No filme, Joan Crawford é o rosto do desamparo. Para os nova-iorquinos, a expressão ímpar de um mundo desaparecido.





sábado, 6 de dezembro de 2014

What ever happened to Scott Walker? 1

Até melhor opinião – o que pressupõe, atendendo à força do caso em questão, o recurso a fundamentos de natureza científica –, nunca se observou, na história do Pop/Rock, uma transfiguração tão profunda como aquela que levou o jovem Scott Walker membro dos razoavelmente famosos The Walker Brothers, ao Scott Walker regente da música presente em discos tão radicais como Tilt ou Bish Bosch. O que terá entretanto acontecido é um mistério, mas envolverá, com certeza, um daqueles abismos capazes de mudarem o sentido de uma vida. A bem da saúde das plantinhas, fica o Scott de antigamente. 



A Terra estremeceu com os Sex Pistols 2



sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Uma noite indefinida

Ninguém poderá assegurar se se tratou de um concerto entrecortado por momentos avulso de stand-up comedy, ou se terá sido um espetáculo de sarcasmo secundado por interlúdios musicais, dúvida que não ajuda no balanço da noite Pere Ubu na Galeria Zé dos Bois. Certezas, só uma: quando Hollywood quiser filmar uma biografia de Orson Welles, David Thomas é o homem certo para dar corpo ao realizador/ator no período da filmagem de A Sede do Mal.



Situacionismo Pop/Rock 3



quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Encerrado para concerto

Questiona freneticamente o Jardim: – Será que os Pere Ubu tocarão hoje, na Galeria Zé dos Bois, o Final Solution?
Responde prontamente o jardineiro: – Que toquem o que bem quiserem...desde que seja de arromba!!!



A arte bruta de Adolf Wölfli

Graeme Revell especializou-se na escrita de bandas sonoras, mas muito antes esteve nos SPK, nome forte da vaga industrial do final dos anos 70. No meio do ruído, o grupo gravou em 1986 uma sombria visão do Quarto Mundo, Zamia Lehmanni - Songs Of Byzantine Flowers, por aqui muito apreciado. No mesmo ano, o australiano participou em Necropolis, Amphibians & Reptiles - The Music Of Adolf Wölfli, com composições do artista suíço de arte bruta, Adolf Wölfli. Um disco judiciosamente repartido entre a beleza e a estranheza.



terça-feira, 2 de dezembro de 2014

A voz que nós perdemos

Enquanto não chega um anunciado disco póstumo de Bobby Womack, o Jardim agarra-se ao seu último LP, The Bravest Man In The Universe, de 2012, ou melhor será dizer, à canção Please Forgive My Heart, quatro minutos e meio que confirmam plenamente que a música nunca se poderá recompor do desaparecimento de certas vozes.



A Terra estremeceu com os Sex Pistols 1

Discutir, quase fazendo uso do método científico, onde nasceu exatamente o Punk nunca chegará para negar uma evidência: ele foi, na essência, os Sex Pistols e aquilo que aconteceu em torno do grupo. Claro que não houve recanto do planeta sem a sua réplica No Future, mas reproduzir aqueles intensos meses irredutivelmente britânicos nunca poderia reconstruir com fidelidade o sentimento original. Ainda assim, a Terra estremeceu o suficiente para mudar a face da música para sempre.



segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O ouro da Motown

As The Supremes eram um grupo exclusivamente feminino, mas a comparação com as atuais girls band fica-se apenas pela verificação da semelhança de género. Depois, a música trata de apartar dois mundos inconciliáveis: de um lado a pastilha elástica incessantemente recauchutada nas redes sociais, do outro mulheres negras que lutavam por uma dupla emancipação enquanto gravavam sucessos prontos a desafiar a passagem do tempo.





O apaziguamento dos Swans 2